A imagem de uma jovem e radiante Claudia Cardinale dá as boas-vindas a Cannes, que finaliza os preparativos para o maior festival de cinema do mundo receber a partir de quarta-feira as grandes estrelas... com um gigantesco dispositivo de segurança.

Outra diva italiana, Monica Bellucci, mestre de cerimónias da 70ª edição do festival, desembarcou na segunda-feira na luxuosa cidade da costa sudeste da França. No dia seguinte foi a vez do presidente do júri, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar.

Estrelas como Nicole Kidman - grande nome do evento com três filmes e uma série em exibição -, Colin Farrell, David Lynch, Sofia Coppola e Isabelle Huppert também desfilarão pela passadeira vermelha durante o festival, que termina no dia 28.

Dez meses depois do atentado na cidade próxima de Nice, onde um extremista conduziu um camião e matou 86 pessoas, as autoridades mobilizaram um dispositivo de segurança inédito, com direito a 300 imponentes vasos de plantas para impedir este tipo de ataque, além de 550 câmaras de segurança.

A polémica Netflix

No total, 19 filmes disputarão a Palma de Ouro, incluindo quatro produções americanas e quatro de cineastas franceses, enquanto o austríaco Michael Haneke, duas vezes vencedor do maior prémio do festival com "O Laço Branco" e "Amor", pode tornar-se o primeiro cineasta a vencer três vezes Cannes, desta vez com "Happy End".

A polémica fica por conta de dois filmes selecionados para a mostra competitiva que foram produzidos pela plataforma americana de "streaming" Netflix.

"The Meyerovitz Stories", do americano Noah Baumbach, e "Okja", do sul-coreano Bong Joon-Hom, não poderão ser exibidos nas salas francesas em consequência da legislação nacional que impõe um prazo de três anos entre a estreia nos cinemas e a disponibilidade na internet.

A Netflix recusou aguardar este tempo e perante os protestos das salas francesas, o festival decidiu na semana passada que, a partir de 2018, todas os filmes em competição deverão assumir o compromisso prévio de uma distribuição nos cinemas do país.

O diretor de conteúdos da Netflix, Ted Sarandos, pediu na segunda-feira que os festivais de cinema se adaptem aos novos tempos.

"O público está a mudar, assim como os distribuidores, e os festivais... provavelmente também mudarão", disse.

Séries e realidade virtual

Fora de competição, o mexicano Alejandro González Iñárritu apresentará um curta-metragem em realidade virtual, "Carne e Areia", sobre a experiência de um imigrante que tenta atravessar a fronteira com os Estados Unidos.

Duas séries de TV, um formato que faz cada vez mais sucesso, foram incluídas no programa oficial. Uma delas é a terceira temporada de "Twin Peaks", de David Lynch, sucesso de 1990 e que terá dois episódios exibidos em Cannes. A outra é a segunda temporada de "Top of the Lake", da neozelandesa Jane Campion.

Por ocasião do 70º aniversário de Cannes, o realizador brasileiro Fernando Meirelles comentou que o Festival "perdeu um pouco da sua importância pelo volume de filmes e plataformas que existem hoje".

"A seleção de Cannes é apenas uma seleção interessante, mas (...) já não se pode afirmar que está a representar o mais estimulante ou o melhor do ano", disse à AFP.

Sinal dos tempos...