"O discurso é extraordinário e, como esperado, eloquente. Agora que o discurso foi entregue, a aventura de Dylan está a chegar ao fim", escreveu num blog Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca que concede este prémio todos os anos.

No texto, Bob Dylan quis refletir e demonstrar a ligação entre as canções que compôs e a literatura que leu, discorrendo longamente sobre três obras em particular, que lhe forneceram matéria de inspiração para várias canções: "Moby Dick", de Herman Melville, "A Oeste nada de novo", de Erich Maria Remarque, e "Odisseia", de Homero.

Para Bob Dylan, todos esses livros, assim como outros clássicos, como "D. Quixote" e "Robinson Crusoe", deram-lhe "uma certa perspetiva de encarar a vida, um conhecimento sobre a natureza humana e uma medida para todas as coisas".

Do ponto de vista lírico, Bob Dylan reconhece marcas dos autores que leu, mas avisa: "Escrevi sobre todo o tipo de coisas nas minhas canções. E não me vou preocupar com isso, com o que significam".

Para o final do discurso, o músico e escritor sentencia que "as canções não são como literatura. Foram feitas para serem cantadas e não lidas".

"Espero que alguns de vocês possam ouvir estas letras da forma que elas foram pensadas para serem ouvidas: num concerto ou num álbum ou noutra forma qualquer em que as pessoas ouvem hoje as canções. Regresso mais uma vez a Homero, que diz 'Canta, ó Musa, e por mim conta a história’", declarou.

Dylan é o primeiro músico a ganhar o Nobel da Literatura.

As regras da academia determinam que para receber o prémio em dinheiro o premiado deve entregar um discurso de aceitação. O envio deve ser feito dentro de um período máximo de seis meses depois de 10 de dezembro, data da cerimónia da premiação que coincide com o aniversário da morte de seu fundador, Alfred Nobel.

Como Thomas Mann, Albert Camus, Samuel Beckett, Gabriel García Márquez e Doris Lessing, o cantor e compositor norte-americano, de 75 anos, entrou no panteão dos homens e mulheres de letras que foram recompensados pela Academia Sueca desde 1901.

Após meses de suspense, Bob Dylan finalmente recebeu, a 1 de abril, o seu Nobel de Literatura numa reunião com a Academia Sueca.

Numa escolha inesperada, que gerou indignação em algumas pessoas, Bob Dylan, cujo nome verdadeiro é Robert Allen Zimmerman, foi premiado em outubro por criar "novos modos de expressão poética dentro da grande tradição da música americana", segundo o anúncio da Academia.