“RAPublicar – A micro-história que fez história numa Lisboa adiada 1986-1996”, editado pela Caleidoscópio, recorda “anos muito intensos”, “lembra à sociedade o que ela tentou esquecer” e dá a conhecer os protagonistas desta história, que “foram sujeitos transformadores”, afirmou Soraia Simões em declarações à agência Lusa.

Por considerar que “o discurso dos sujeitos da história perde-se através da escrita”, o livro dá acesso a cerca de 18 horas de conversas de Soraia Simões com protagonistas da história do rap, de MC (Mestres de Cerimónias) e ‘rappers’, a técnicos de som e produtores passando por dirigentes associativos.

“A escrita não consegue passar o que a oralidade passa”, sublinhou.

Para a investigadora, este trabalho, “que não procura ser demasiado científico” embora siga uma metodologia científica, “é um ‘statement’ [tomada de posição]”.

“É um trabalho que quero que seja escutado e lido por toda a gente e que seja uma espécie de bússola, para que percebamos o que é que foi isto e de que forma é que isto mudou a forma como olhamos para a sociedade e a cultura”, afirmou.

Soraia Simões “não quis abordar a origem do rap, porque já há muitos trabalhos sobre isso”, mas sim “perceber a dimensão no quadro histórico da altura, cultural e discográfico, que esta prática tem, que é muita”.

A investigadora defende que “o quadro histórico” de Portugal no final da década de 1980/início de 1990 “propiciou o desenvolvimento do rap em Portugal”, recordando “a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), a imigração associada, o aparecimento de associações (como a SOS Racismo, a Olho Vivo e a Abraço), o racismo (sendo um dos expoentes máximos o assassinato de Alcino Monteiro por skinheads no Bairro Alto, em Lisboa, em 1995) e a exclusão social”.

Soraia Simões recorda a atenção dada na altura por uma editora discográfica internacional, a Sony, a “miúdos que nunca tinham gravado e não eram músicos”.

“O quadro histórico era propício ao interesse da Sony numa música marginal, ‘underground’, que era representativa do que se passava no país”, afirmou, referindo-se a “Rápublica”, a primeira compilação de rap português, editada em 1994, com temas de, entre outros, Black Company, Boss AC, Zona Dread, Family e Líderes da Nova Mensagem.

Além de contar histórias, Soraia Simões também quis “levantar questões”, como “perceber porque é que hoje em dia quase todos os envolvidos não vivem da música, ou por que é que não havia mulheres na coletânea, quando havia dois grupos de rap feminino em Portugal, ou por que é que a capa da coletânea era um mapa da Área Metropolitana de Lisboa, se havia rap noutros sítios do país (Torres Vedras e Porto)”.

O título do livro fala numa micro-história, “porque é uma história local que ganha protagonismo numa Lisboa que é adiada naqueles anos, porque todos os assuntos levantados neste livro, eles foram precursores no levantamento dessas problemáticas, estão agora a discutir-se na cidade: a situação na União Europeia, o avanço da extrema-direita, a experiência transatlântica”.

Os textos e fotografias de “RAPublicar – A micro-história que fez história numa Lisboa adiada 1986-1996” enquadram as conversas, algumas feitas no âmbito do Mural Sonoro (projeto criado pela investigadora para estudar a música popular portuguesa) e já utilizadas por Soraia Simões numa tese de mestrado.

O trabalho de campo para este trabalho começou em 2011 e, em janeiro do ano passado o projeto RAPortugal 1986-1999 obteve apoios da Direção-Geral das Artes. O livro é agora editado no âmbito deste projeto.

“RAPublicar – A micro-história que fez história numa Lisboa adiada 1986-1996” é apresentado hoje às 21:00 na livraria Ler Devagar, na Lx Factory, pelo antropólogo Otávio Raposo e o músico cabo-verdiano Djone Santos, que integrou o grupo Karapinhas, que acompanhava General D.

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