À 60.ª edição, a Bienal de Veneza, em Itália, é dedicada a “Foreigners Everywhere” (“Estrangeiros em todo o lado”, em tradução livre).

Este ano, o foco principal são “artistas que são eles próprios estrangeiros, imigrantes, expatriados, diaspóricos, emigrados, exilados ou refugiados - particularmente aqueles que se deslocaram entre o sul global e o norte global”, sendo que “a migração e a descolonização serão temas-chave”, de acordo com o curador, o brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Nesta edição, o Pavilhão de Portugal, instalado no Palazzo Franchetti, no Grande Canal de Veneza, acolhe o projeto “Greenhouse”, das curadoras e artistas Mónica de Miranda, Sónia Vaz Borges e Vânia Gala, que tem como protagonista um Jardim Crioulo onde há instalações que são palcos de coreografias, assembleias e educação militante.

De acordo com Mónica de Miranda, o jardim, que “vai ser cuidado” ao longo da bienal, é “pontuado por instalações, que também carregam jardins, esculturas que são palcos, esculturas móveis que se transmutam para o espaço, que recebem coreografias e onde vão acontecer escolas, que tentam replicar as assembleias de Amílcar Cabral [fundador e líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, que este ano completaria o 100.º aniversário], que aconteciam em florestas”.

Na conferência de imprensa de apresentação do projeto, em fevereiro em Lisboa, a artista revelou que no Jardim Crioulo haverá também escutas de rádio, para a qual contribuíram “vários pensadores”, e o projeto “abre-se para mais artistas e outros curadores refletirem”.

Até novembro, quando encerra a bienal, “convoca-se um público ativo para fazer parte da experiência do projeto expositivo, que, além de ser uma experiência estética, expande-se e convoca vários pensadores, vários artistas, vários investigadores a refletirem a própria temática do pavilhão”.

As três curadoras, artistas e investigadoras constroem, com este projeto, “uma reflexão ecológica, histórica e coletiva, que o jardim traz em si”.

“O jardim tem um tempo que é cíclico, traz o passado, o presente e o futuro. No passado traz todas as histórias de um legado colonial português, e desconstrói esse espaço a partir de práticas artísticas que apontam para o futuro, uma utopia de conseguir criar a partir da arte um lugar de encontros onde se estabelece um diálogo, que reflete essas questões e traz novas alternativas para elas”, referiu Mónica de Miranda, em declarações à Lusa, à margem da conferência de imprensa.

A Representação Oficial Portuguesa não é a única presença portuguesa na Bienal.

O pavilhão oficial da Santa Sé, instalado na prisão feminina Venezia Giudecca, acolhe a exposição “Com os meus olhos”, comissariada pelo cardeal português Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação.

Já o pavilhão da Lituânia, instalado na Igreja di Sant’Antonin, tem na lista de comissários o curador português João Laia, atualmente diretor artístico do Departamento de Arte Contemporânea do Município do Porto.

Do mundo lusófono estará presente, pela primeira vez, Timor-Leste, com o projeto da artista Maria Madeira “Kiss and don´t tell”, com curadoria de Natalie King, sobre a história da luta das mulheres contra a ocupação indonésia.

O Brasil terá o seu pavilhão nacional com “Ka'a Pûera: Somos pássaros ambulantes”, um projeto com curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana, com participação dos artistas Glicéria Tupinambá e da Comunidade Tupinambá de Serra do Padeiro e Olivença, provenientes da Bahia, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó.

Da programação da bienal de arte fazem parte as representações nacionais e uma exposição geral para a qual são selecionadas obras de artistas convidados. Este ano, na lista dos 332 selecionados surgem os artistas angolanos Kiluanji Kia Henda e Sandra Poulson, e os moçambicanos Malangatana (1936-2011) e Bertina Lopes (1924-2012).

Do Brasil, estarão representados na exposição geral artistas como Tarsila do Amaral (1886-1973), Candido Portinari (1903-1962), Djanira da Motta e Silva (1914-1979), Emiliano di Cavalcanti (1897-1976), Cícero Dias (1907-2003) e Dalton Paula.

O conflito israelo-palestiniano, que se arrasta há décadas e escalou de novo em outubro do ano passado, afeta a edição deste ano da bienal.

A artista Ruth Patir e os curadores do pavilhão israelita anunciaram esta semana que não vão inaugurar o espaço “até que seja alcançado um acordo para um cessar-fogo e sejam libertados os reféns” feitos pelo movimento palestiniano Hamas num ataque a Israel que causou mais de 1.200 mortos. A reação de Israel já causou a morte a mais de 33.000 pessoas na Faixa de Gaza.

No entanto, a artista israelita garantiu que a ideia não é cancelar a exposição.

Em fevereiro, milhares de artistas, instituições e organizações culturais escreveram uma carta aos organizadores da Bienal de Veneza a pedir que Israel fosse excluído de uma das maiores mostras de arte internacionais, o que foi rejeitado pelos organizadores.

O ministro italiano da Cultura , Gennaro Sangiuliano, descreveu o pedido como “inaceitável, além de vergonhoso” e os organizadores rejeitaram qualquer tipo de boicote, confirmando a presença do pavilhão israelita.