Javier Bardem está em negociações para interpretar o rei Tritão em "A Pequena Sereia", mas o ator espanhol já visitou as profundezas do oceano num documentário que apresentou no festival de cinema de Toronto.

Em "Sanctuary", as câmaras seguem-no e ao irmão Carlos até à Antártida, à medida que procuram apoio para a campanha do Greenpeace para preservar a zona da ação humana.

A certa altura, Bardem, visivelmente alarmado, embarca num pequeno submarino para duas pessoas e acompanha a recolha de amostras de espécies afetadas pela mudança climática e pela pesca com redes de arrasto.

"Graças a Deus não sou claustrofóbico... era como um ovo Kinder", recordou à agência AFP em Toronto. "Mas estava em boas mãos", acrescentou.

O vencedor de um Óscar ("Este País Não É Para Velhos") disse que a sua mãe lhe passou a consciência da importância de "defender sempre as causas que considera justas, independente de qual for o seu trabalho", e em tempos recentes isso traduziu-se na aposta em causas ambientais.

No mês passado, falou nas Nações Unidas sobre a importância de um tratado mundial sobre os oceanos.

"O mundo está a observar" e "não podemos dar-nos ao luxo de nos equivocarmos", disse.

Ao mesmo tempo afirmou que gostaria de ver mais colegas de Hollywood a aproveitar "o seu potencial alcance de milhões" de pessoas para fomentar a mudança.

Nas suas conversas recentes com o realizador Rob Marshal sobre a versão em imagem real de "A Pequena Sereia", Bardem pediu-lhe que acrescentasse mensagens ambientais à história.

"Tem de aproveitar esta história bonita e incrível escrita por [Hans Christian] Andersen e nela abordar a poluição dos oceanos", disse Bardem.

"Pode-se chegar a milhões e milhões de gerações mais jovens... isso é uma coisa que filmes como esse podem e devem fazer", explicou.

Marshall, indicou Bardem, mostrou-se "muito aberto" à sugestão, mas qualquer mudança deve ser aprovada pelo estúdio.

"É uma grande máquina, não é um realizador de cinema que tem o seu próprio filme onde pode tomar todas as decisões... Isto é a Disney", indicou.

"Pai de todas as crianças"

Bardem admitiu que isso não é a única coisa que o anima a cantar em "A Pequena Sereia". Tem dois filhos com a esposa, a atriz Penélope Cruz, incluindo uma menina de dois anos.

"O papá será um herói! Só por isso vale a pena", brincou.

Mas a paternidade também o impulsionou a adotar a causa ambiental com mais empenho.

"Quando se tem um filho, torna-se pai de todas as crianças do mundo. Sei que soa muito piegas, mas é verdade", disse.

"Terão 18 ou 20 anos e nos dirão: 'Que vergonha! Você sabia da crise e o que fez em relação  isso?", imaginou.

Para Bardem, é essencial escolher papéis com mensagens importantes. No seu próximo filme, "Dune", interpreta o líder da última tribo sobrevivente num planeta cujo ecossistema ruiu, obrigada a reciclar saliva, suor e urina para suportar o calor.

"Isso pode ser uma realidade dentro de 20 anos", garantiu o ator.

Em "Sanctuary", Bardem reuniu-se com políticos e transmitiu em direto da Antártida para impulsionar uma campanha que procura juntar 1,8 milhões de assinaturas para criar a maior área protegida do mundo, uma assinatura por cada quilómetro quadrado.

Agora todos os olhares se concentram em planos mais ambiciosos para uma rede mundial de santuários que está sendo debatida nas Nações Unidas.

Bardem elogiou o trabalho da ativista Greta Thunberg e qualificou de "gigante" a greve escolar pela mudança climática no mundo todo, estimando que gerará pressão nos políticos.

No entanto, a sua própria experiência na ONU num painel cheio de cientistas do clima de alto nível deixou-lhe claro que o caminho é longo.

"Irritou muito porque mais da metade da sala estava vazia. É um mau começo", explicou.

"Isto deveria estar em primeiro lugar na agenda de todos, afeta-nos a todos", apontou.