Muito simpática, esta primeira longa-metragem do uruguaiano Enrique Buchichio. Tanto que
«El Cuarto de Leo», lá para o final, quase consegue fazer esquecer a sensação de déjà vu deixada pelo arranque.

O que começa como um olhar sobre a (re)descoberta da sexualidade de Leo, o jovem protagonista (novamente abandonado por uma namorada), aparenta tornar-se em mais um filme que apenas muda o cenário de um argumento-tipo (iniciado por títulos como
«Coming Out») mas acaba por oferecer algumas nuances e desvios, mesmo que não inverta totalmente as expectativas.

O reencontro do protagonista com uma amiga de infância, a circunspecta Caro, não só permite que esta primeira obra desenhe um curioso retrato dos acasos do quotidiano (e da amizade) como reforça a sua intensidade, concedendo um novo fôlego à narrativa.

Com uma realização cuja sobriedade tem paralelo no argumento, Buchichio demonstra saber contar uma história e tem um evidente respeito (e carinho) pelas suas personagens. E assim é difícil não sentir empatia quer por Leo, protagonista com tanto de hesitante como de genuinamente simpático, quer pelo coeso elenco de secundários (onde o colega de apartamento, pelo seu sedentarismo quase inacreditável, merece uma referência especial).

Uma banda sonora acolhedora e uma fotografia de tons outonais ajudam a construir algumas cenas memoráveis (como aquela em que Leo e Caro ouvem música no quarto e a câmara desliza discretamente) e se o resultado final nem sempre é tão inspirado, a sua combinação de modéstia e sensibilidade garante-lhe um carisma que muitos filmes (alguns até melhores) gostariam de ter.

«El Cuarto de Leo» é exibido às 15 horas deste sábado, 18 de Setembro, na sala 1 do Cinema São Jorge, em Lisboa. O filme insere-se na secção Panorama Longas-Metragens do
Queer Lisboa 14, que arrancou hoje e decorre até dia 25.