Hollywood prepara-se para entrar numa greve que pode ter efeitos devastadores na indústria.

Os membros do Writers Guild of America, o sindicato que representa os argumentistas nos EUA, irão aprovar na segunda-feira, 24 de abril, o voto para entrar em greve. No dia seguinte, recomeçam as negociações com a Alliance of Motion Picture and Television Producers, que reúne mais de 350 estúdios e produtoras de cinema e televisão, para tentar chegar a um acordo para os próximos três anos.

Se isso não acontecer, a partir de 2 de maio os argumentistas param de trabalhar em tudo o que vai de filmes a séries e talk shows.

O desejo do sindicato para que os estúdios façam mais contribuições para colmatar o défice de 145 milhões de dólares previsto para os próximos anos e assim impedir a implosão dos planos de pensões e cuidados de saúde é uma das razões para a provável greve.

Mais relevante é que os estúdios aumentaram os lucros, principalmente na TV, mas muitos argumentistas têm visto as suas compensações a diminuir: nunca se fizeram tantos programas, nomeadamente graças ao Netflix e Amazon, mas as temporadas são cada vez mais curtas e dos 20 a 22 episódios do passado, muitas séries agora não passam os 10.

Com isto, a qualidade aumentou e cativou muitos talentos do mundo do cinema, mas os argumentistas recebem o mesmo porque normalmente são pagos por episódio. E como muitos têm contratos exclusivos para a duração da série, não podem aceitar outros trabalhos durante os intervalos de produção para compensar a quebra de rendimentos.

Se a greve avançar a 2 de maio, os efeitos serão sentidos em primeiro lugar pelos talk shows diurnos e noturnos: os canais serão rapidamente obrigados a emitir repetições e eventualmente mais 'reality shows'.

Foi isso que aconteceu com a última greve do género, entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008, que causou mais de mil milhões de dólares de prejuízos.

O que então aconteceu também deixa pistas para agora: as séries que não tenham os episódios da próxima temporada fechados podem ter de acabar mais cedo ou mesmo adiar o início da produção.

Por exemplo, em 2007-2008, "Lost" e "Heroes" passaram respetivamente de 23 para 14 e 11 episódios. Muitos acreditam que "Heroes", que estava na segunda temporada, nunca mais teve a mesma qualidade por causa da paragem forçada.

A indústria cinematográfica normalmente é menos afetada pois existem muitos argumentos completos, mas estúdios mais dependentes de sagas, como a Marvel, podem ter problemas.

Vários atores e realizadores reconheceram que a produção apressada antes da última greve afetou a qualidade de vários filmes lançados em 2009, principalmente "Transformers - Retaliação", "X-Men Origens: Wolverine", "G.I. Joe - O Ataque dos Cobra", "Star Trek", "Dragonball: Evolução" e "007- Quantum of Solace".

"Ficámos tramados. Tínhamos o básico de um argumento e depois aconteceu a greve dos argumentistas e não podíamos fazer nada. Não podíamos contratar um argumentista para o acabar. (...) Tentei reescrever cenas — e argumentista é que eu não sou. Eu e o realizador [Marc Forster] fomos os únicos autorizados a fazê-lo. [...] Safámo-nos, mas por pouco", recordou anos mais tarde o sempre franco Daniel Craig sobre aquele que é considerado o seu filme mais fraco como James Bond.

E o mais curto de toda a saga: 106 minutos...