Não para de crescer o número de estúdios de Hollywood que ameaçam deixar de produzir filmes e séries na Geórgia caso a polémica lei antiaborto entre em vigor.

Além da Geórgia, outros sete estados do sul, incluindo o Alabama, o Missouri e a Louisiana, adotaram legislações similares. O objetivo final de círculos conservadores é a revogação da histórica decisão de 1973 do Supremo Tribunal dos EUA no caso Roe contra Wade, que legalizou o aborto em todo o país.

A Geórgia está numa situação diferente: conhecido como a "Hollywood do Sul", o estado tornou-se o terceiro maior centro de produção do país na última década graças aos incentivos fiscais de até 30% - entre os mais generosos do mundo - que oferece às produtoras de cinema e televisão.

Muito está em causa: 455 produções estiveram no estado apenas no ano passado e 92.000 postos de trabalho estavam relacionados com a indústria, com um impacto económico de nove mil milhões de dólares.

A relação está agora ameaçada pela lei sobre o aborto, assinada a 7 de maio pelo governador republicano Brian Kemp, que proíbe interromper a gravidez depois de seis semanas de gestação.

Ativistas, atores e outros membros da indústria do entretenimento apelaram ou anunciaram mesmo o boicote ao estado, mas parecia que os grandes estúdios se preparavam para permanecer à margem da polémica e deixar a batalha para os políticos e tribunais.

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Isso mudou radicalmente após Netflix e Disney (que inclui a Fox) comunicarem esta segunda e quarta-feira que reconsiderariam as produções no estado se a lei entrasse em vigor: em causa podem estar séries como "Stranger Things" e "Ozark", bem como os filmes da Marvel, rodados maioritariamente nos estúdios de Atlanta.

Esta quinta-feira, juntaram-se os grandes estúdios que faltavam e outras companhias: WarnerMedia (que inclui o estúdio Warner Bros. e a estação HBO, mas também a CNN e Turner Sports, que operam em Atlanta há décadas), NBCUniversal (que detém a Universal Pictures), Sony Pictures (que junta Sony e Columbia Pictures) e Viacom (dona da Paramount), além CBS & Showtime, AMC Networks (que usa Atlanta para a rodagem de "The Walking Dead") e STX.

Segundo fontes dos estúdios ouvidas pelo jornal Los Angeles Times, nas últimas três semanas os estúdios estavam a enfrentar pressão a sério dos artistas (atores, produtores e realizadores) para tomar algum tipo de posição à medida que cada estado aprovava a sua versão da lei.

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Estas empresas também têm de ter em consideração os seus funcionários, como deu a entender Bob Iger, CEO da Disney.

"Acho que muitas pessoas que trabalham connosco não vão querer trabalhar lá e vamos ter de respeitar os seus desejos nessa situação. Neste momento, estamos a analisar com muito cuidado", explicou.

"Não vejo como será prático para nós continuar a filmar lá" se a lei entrar em vigor, acrescentou.

Todos os comunicados incluem o mesmo tipo de linguagem: nenhum estúdio anuncia um boicote formal, mas uma reavaliação da relação se a lei entrar em vigor.

"Acompanharemos de perto a situação e se a nova lei se mantiver, reconsideraremos a Geórgia como sede de qualquer nova produção", anunciou a WarnerMedia.

A NBC Universal disse esperar que estas leis enfrentem "sérios desafios legais" e que não entrem em vigor "enquanto esses processos continuarem nos tribunais".

"Se alguma dessas leis for ratificada, isso teria um forte impacto no processo de tomada de decisões dos lugares onde produziremos os nossos conteúdos no futuro", acrescentou.

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