Um tribunal federal dos Estados Unidos bloqueou esta terça-feira (1) a aplicação de uma lei muito restritiva ao aborto no estado da Geórgia. A sua aprovação provocara protestos, principalmente em Hollywood.

A lei, adotada no início de maio pelo estado do sul dos Estados Unidos - que serve de local para a rodagem de vários filmes e séries - entraria em vigor a 1 de janeiro de 2020.

A intenção era proibir o aborto assim que fosse detetado o batimento cardíaco do feto, por volta das seis semanas de gestação, época em que muitas mulheres nem sequer sabem que estão grávidas.

O juiz Steve Jones decidiu suspender esta medida enquanto aguarda uma decisão substantiva, argumentando que ela não se pode sobrepor a um veredito do Supremo Tribunal dos Estados Unidos.

Em 1973, o Supremo legalizou o direito das mulheres de abortar até que o feto seja viável, por volta da 24ª semana de gravidez.

Desde o início do ano, vários estados conservadores do sul e centro dos Estados Unidos lançaram uma vasta ofensiva contra o direito ao aborto, adotando leis comparáveis às da Geórgia.

Os tribunais invalidaram várias, do Missouri, Arkansas, Kentucky ou Mississipi.

Encorajados pela entrada no Supremo Tribunal de juízes conservadores nomeados por Donald Trump, os opositores ao aborto pretendem aumentar o número de apelos, com a esperança de que ele reverta a sua jurisprudência de 1973, conhecida pelo caso Roe contra Wade.

"Não deixaremos de lutar até que todos estes esforços tenham fracassado", prometeu esta terça a poderosa associação de direitos civis ACLU, que celebrou a última decisão judicial.

Vários gigantes do entretenimento, incluindo Disney, Netflix e Warner Studios, ameaçaram boicotar a Geórgia se essa lei entrar em vigor. A atriz Alyssa Milano chegou a pedir uma greve sexual.

O Estado é conhecido como a "Hollywood do Sul" após se tornar o terceiro maior centro de produção do país na última década graças aos incentivos fiscais de até 30% - entre os mais generosos do mundo - que oferece às produtoras de cinema e televisão.

Muito está em causa: 455 produções estiveram no estado apenas no ano passado e 92.000 postos de trabalho estavam relacionados com a indústria, com um impacto económico de nove mil milhões de dólares. A relação estava ameaçada pela lei sobre o aborto, assinada a 7 de maio pelo governador republicano Brian Kemp.

Ativistas, atores e outros membros da indústria do entretenimento apelaram ou anunciaram mesmo o boicote ao estado, mas inicialmente os grandes estúdios preparavam-se para permanecer à margem da polémica e deixar a batalha para os políticos e tribunais.

Isso mudou radicalmente após Netflix e Disney (que inclui a Fox) comunicarem no fim de maio que reconsiderariam as produções no estado se a lei entrasse em vigor: em causa podiam estar séries como "Stranger Things" e "Ozark", bem como os filmes da Marvel, rodados maioritariamente nos estúdios de Atlanta.

Logo a seguir juntaram-se na oposição à proposta de lei WarnerMedia (que inclui o estúdio Warner Bros. e a estação HBO, mas também a CNN e Turner Sports, que operam em Atlanta há décadas), NBCUniversal (que detém a Universal Pictures), Sony Pictures (que junta Sony e Columbia Pictures) e Viacom (dona da Paramount), além CBS & Showtime, AMC Networks (que usa Atlanta para a rodagem de "The Walking Dead") e STX.

Segundo fontes dos estúdios ouvidas pelo jornal Los Angeles Times, os estúdios estavam a enfrentar pressão a sério dos artistas (atores, produtores e realizadores) para tomar algum tipo de posição à medida que cada estado aprovava a sua versão da lei.

Estas empresas também têm de ter em consideração os seus funcionários, deu a entender Bob Iger, CEO da Disney.

"Acho que muitas pessoas que trabalham connosco não vão querer trabalhar lá e vamos ter de respeitar os seus desejos nessa situação. Neste momento, estamos a analisar com muito cuidado", explicou.

"Não vejo como será prático para nós continuar a filmar lá" se a lei entrar em vigor, acrescentou.

Todos os comunicados incluiam o mesmo tipo de linguagem: nenhum estúdio anunciava um boicote formal, mas uma reavaliação da relação se a lei entrar em vigor, que agora ficou em causa com a suspensão decretada pelo juiz Steve Jones.

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