Joaquin Phoenix recusa-se de modo veemente a fazer comparações fáceis entre o imperador bélico que interpreta em "Napoleão" e os conflitos que afetam o mundo atualmente.

"Se estivesse no meio de um conflito, a última coisa que desejaria seria ouvir um ator sentado no Bristol" parisiense [um hotel de luxo], disse o ator norte-americana à France-Presse.

Numa das suas primeiras entrevistas desde o fim da greve dos atores em Hollywood, Phoenix conversou com um pequeno grupo de jornalistas em Paris antes da estreia, na próxima quinta-feira (23), de "Napoleão", filme dirigido por Ridley Scott ("Blade Runner", "Gladiador").

"Neste momento, há pessoas que estão a sofrer dor e angústias reais. Não quero misturar um filme em que participo, que custou muito dinheiro, com algo que está a acontecer. Simplesmente parece errado", afirmou o vencedor do Óscar pela sua interpretação em "Joker" (2019).

Phoenix, 49 anos, recordou que esperou mais de 20 anos para voltar a trabalhar com Scott, após o grande sucesso com "Gladiador", no qual interpretou outro imperador, Cómodo.

Em seguida, o ator faz uma piada e afirma que Scott não lhe ligou antes de encontrar "uma história sobre um tirano pequeno e petulante e afirmar: 'Tenho o tipo certo!'".

Amor e guerra

O filme é uma mistura de batalhas em larga escala em toda a Europa e um retrato íntimo da relação complexa de Napoleão com a sua primeira esposa, Josephine, interpretada por Vanessa Kirby.

O relacionamento conturbado foi preservado para a história com as cartas suplicantes do general para a esposa.

"Ele era muito desajeitado socialmente. Considero-o um romântico com cérebro de matemático", disse o ator.

"Queria ser sincero, mas as cartas dele... parece um adolescente apaixonado, quase plagiando poesia" nas cartas a Josephine.

"Haveria algo quase comovente, se ele não fosse responsável pela morte de milhões de pessoas", acrescentou.

"Imaginei que [Napoleão] era frio e calculista, como um grande estratega militar. O que me surpreendeu foi o seu sentido de humor e como era imaturo", revelou Phoenix.

Vanessa Kirby considera que a relação entre Napoleão e Josephine era fascinante, mas "exaustiva".

"Sempre me pareceu espantoso que o homem que construiu um império pudesse escrever estas cartas", afirmou.

"Eram inexoravelmente atraídos um pelo outro, mas nunca me pareceu algo sensato, tranquilo e saudável. Era obsessão e fascínio, dinâmicas de poder que mudavam", acrescentou Kirby.

O trabalho de pesquisa dos atores foi complicado: Napoleão é uma das figuras históricas que rendeu mais livros e as versões publicadas ao longo dos séculos são muito diferentes.

"É muito difícil obter uma resposta clara sobre muitas coisas", disse Phoenix, ao explicar que o seu interesse era encontrar "inspiração, mais do que informação", com detalhes sobre como Napoleão se alimentava e bebia.

"Algumas coisas são ridículas. Duas semanas antes do início das filmagens, alguém me disse: 'Sabes que Napoleão era canhoto?'. E demorou uma semana para desmentir isso", conta Phoenix com um sorriso.

O mesmo aconteceu com Josephine.

"Cada livro era completamente diferente. Tive a sensação que [Josephine] interpretava diferentes papéis para sobreviver", disse Kirby.

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