Bem-vindos à temporada encurtada e acelerada dos prémios de cinema nos EUA: com a cerimónia dos Óscares marcada este ano para 9 de fevereiro, três semanas mais cedo do que é habitual e sem anfitrião pela segunda vez consecutiva, anteciparam as especulações, nomeações e eventos de várias organizações.

Este ano, há um interesse "nacional" muito especial no anúncio das nomeações para as estatuetas douradas que serão conhecidas já esta segunda-feira a partir das 13h00: Portugal pode, pela primeira vez, ter um filme nomeado em 92 anos de cerimónias da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

As atenções estarão na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação: de 92 filmes elegíveis, "Tio Tomás - A Contabilidade dos Dias", de Regina Pessoa, chegou à “short-list” de 10 candidatos, juntamente com as curtas dos estúdios Pixar e Sony.

Tio Tomás - A Contabilidade dos Dias

Os cinco finalistas serão escolhidos pelo departamento das curtas-metragens e filmes de animação da Academia, composto por 740 membros. Só pode votar quem tenha mesmo visto os dez finalistas  e as "contas" estão feitas: na hipótese (remota) de todos votarem, chega-se à nomeação com 124 votos em primeiro lugar no boletim. O mais provável é que o número real fique muito abaixo.

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A realizadora, que é membro da Academia desde 2018, já esteve nesta posição com "História Trágica com Final Feliz” em 2006, que não chegou ao quinteto de nomeados final, mas a hipótese de isso acontecer agora é real:  duplamente premiada no Festival Internacional de Animação de Annecy, com o Prémio Especial do Júri e o Prémio para a Melhor Música Original, “Tio Tomás…” é uma co-produção internacional com a França e o Canadá, o que lhe dá uma exposição internacional muito maior, nomeadamente nos mercados anglo-saxónicos.

Além disso, como notou em entrevista ao SAPO Mag, o regresso aos EUA para dar a conhecer o seu trabalho em turné foi muito diferente: "havia muito mais gente que se recordava dos meus filmes anteriores e dizia estar contente por me voltar a ver. E claro que tudo isto conta".

Melhor Filme: a luta entre estúdios e Netflix

São 8469 votantes da Academia com direito a voto (contando com os membros inativos na indústria, a organização ultrapassa os nove mil) para escolher entre cinco e dez  nomeados para a estatueta mais importante, a de Melhor Filme. Desde que esta regra entrou em vigor para a 84ª cerimónia dos Óscares, em 2012 (referentes às produções do ano anterior), o número máximo a que se chegou foi nove por cinco vezes em oito anos.

Após o sucesso de "Roma" no ano passado, tudo leva a crer que a Netflix aumentará a sua presença numa categoria dominada durante décadas apenas pelos grandes estúdios e as suas subsidiárias com "O Irlandês", a épica saga sobre o crime organizado nos Estados Unidos do pós-guerra de Martin Scorsese, e "Marriage Story", um olhar profundo e humano sobre o fim de um casamento e a união de uma família, realizado por Noah Baumbach.

ÓSCARES 2020

  • A 92ª cerimónia realiza-se a 9 de fevereiro no Dolby Theatre de Los Angeles, às 17 horas locais (uma da manhã em Portugal).
  • Pela segunda vez consecutiva, não haverá anfitrião.
  • Um filme fica elegível se for exibido num cinema comercial no condado de Los Angeles durante pelo menos sete dias e três sessões diárias, podendo ser lançado no primeiro dia também noutros meios, por exemplo em streaming.
  • Os Óscares honorários desta edição já foram entregues a 27 de outubro de 2019 aos realizadores David Lynch e Lina Wertmüller, e ao ator Wes Studi. O Prémio Humanitário Jean Hersholt foi para Geena Davis.
  • A categoria de Melhor Filme Estrangeiro foi rebatizada de Melhor Filme Internacional, designação considerada mais representativa, positiva e inclusiva, além de destacar a arte cinematográfica como universal.

Num universo até dez nomeados, será uma performance notável para a plataforma de streaming que, apenas há quatro anos, lamentava as zero nomeações do primeiro filme original, "Beasts of No Nation". A Amazon continua a marcar passo, mas adivinham-se ondas de choque se entrarem mais filmes da Netflix que praticamente não passaram pelas salas de cinema: estão à espreita "Dois Papas", de Fernando Meirelles e "Chamem-me Dolemite", de Craig Brewer.

Os filmes das plataformas de streaming vieram para ficar, mas os grandes estúdios também estão competitivos. Após ter caído por terra a ideia do "Óscar para o filme mais popular", vão entrar na corrida sucessos de bilheteira capazes de atrair espectadores para a cerimónia: "Era Uma Vez em... Hollywood", de Quentin Tarantino, e "Joker", de Todd Phillips, além de "1917", de Sam Mendes, lançado em grande escala nas salas americanas apenas na última sexta-feira (estreia a 23 em Portugal), estimando-se que o arranque nas bilheteiras seja uns excelentes 36 milhões de dólares.

ÓSCARES: ESTES SÃO OS FILMES MAIS FALADOS PARA AS GRANDES NOMEAÇÕES

Ao grupo deverá juntar-se "Parasitas", de Bong Joon-ho: as declarações de atores e realizadores, bem como as nomeações para os prémios dos sindicatos da indústria, revelam ser ampla a admiração pela Palma de Ouro do último Festival de Cannes. Se isso acontecer, irá acumular , tal como "Amour" (2012) e "Roma" (2018), com a nomeação para Melhor Filme Internacional (antes conhecida por Filme Estrangeiro), o que, incrivelmente, será uma estreia para o cinema coreano.

A seguir a estes seis favoritos, aceitam-se apostas sobre quais serão os outros três-quatro nomeados, que devem sair de um grupo formado por "A Despedida", "Jojo Rabbit" (estreia dia 30), "Knives Out: Todos São Suspeitos", "Le Mans '66: O Duelo", "Mulherzinhas" (estreia dia 30) e, mais incerto, "Bombshell: O Escândalo" (estreia dia 23).

Realizadores, atores e a representatividade

As nomeações dos Globos de Ouro (com críticas à ausência de mulheres na corrida de realizadores) e as dos BAFTA da Academia Britânica (idem, mas também por todos os nomeados nas quatro categorias mais relevantes de interpretação serem brancos), não deixam dúvidas: em tempos de Time´s Up, o debate à volta da "representatividade" também faz parte dos prémios, cavando um fosso entre os que defendem que as nomeações refletem a indústria e os que exigem que sejam estas a liderar a mudança de mentalidades em Hollywood.

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Quantas realizadores vão ser nomeadas? E atores ou atrizes de origem negra, asiática ou latina?

As "redes sociais" e alguns ativistas, na indústria e na comunicação social, já "decretaram": as acusações de discriminação e #OscarSoWhite vão regressar se Greta Gerwig não for nomeada para Melhor Realização ("Mulherzinhas") e Awkwafina ("A Despedida"), Cynthia Erivo ("Harriet", sem estreia prevista em Portugal), Lupita Nyong'o ("Nós") ou Jennifer Lopez ("Ousadas e Golpistas") ficarem de fora das categorias de interpretação.

Será interessante tentar perceber se a votação entre 2 e 7 de janeiro terá sido afetada por estas polémicas quando se souber quem são os finalistas. Por exemplo, Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Sam Mendes e Bong Joon-ho parecem "certos" na corrida dos realizadores, segundo as tendências das últimas semanas, incluindo as nomeações do respetivo sindicato.

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Se assim for, os 526 membros do departamento de realizadores da Academia têm uma vaga para Greta Gerwig ou Todd Philips ("Joker"), Noah Baumbach ("Marriage Story"), Taika Waititi ("Jojo Rabbit"), James Mangold ("Le Mans '66: O Duelo") ou Lulu Wang ("A Despedida"). Complicado...

E nas interpretações? São 1,324 os votantes do departamento dos atores e a ausência de Joaquin Phoenix ("Joker"), Adam Driver ("Marriage Story") e Leonardo DiCaprio ("Era Uma Vez...") da extremamente competitiva categoria de Melhor Ator seria um escândalo tão grande como foi "O Primeiro Encontro" em 2016 ter oito nomeações e uma delas não ser a de Amy Adams.

Como é habitual, o anúncio dos nomeados deixará um rasto brutal de desilusão: existem duas vagas para partilhar pelo menos entre Jonathan Pryce ("Dois Papas"), Taron Egerton ("Rocketman"), Christian Bale ("Le Mans '66"), Antonio Banderas ("Dor e Glória"), Robert De Niro ("O Irlandês"), Eddie Murphy ("Chamem-me Dolemite") e Adam Sandler ("Diamante Bruto", disponível na Netflix a partir de dia 30).

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Nas atrizes principais, não há tanta concorrência. Muito provavelmente Saoirse Ronan conseguirá a quarta nomeação aos 25 anos ("Mulherzinhas"), juntando-se às inamovíveis Renée Zellweger ("Judy"), Charlize Theron ("Bombshell") e Scarlett Johansson ("Marriage Story"). E a vaga que sobra será disputada precisamente entre Cynthia Erivo, Lupita Nyong'o e Awkwafina, ou talvez Ana de Armas ("Knives Out") ou Jessie Buckley ("Wild Rose", inédito em Portugal). Escaldante...

Nos atores secundários, consolidaram-se há bastante tempo as posições de Brad Pitt ("Era Uma Vez..."), Al Pacino e Joe Pesci ("O Irlandês") e Tom Hanks ("Um Amigo Extraordinário", sem estreia prevista em Portugal). A posição deste último talvez não seja tão segura (o filme teve uma carreira mais discreta nas bilheteiras do que se esperava), mas um discurso comovente ao receber o prémio de carreira nos Globos de Ouro (dia 5) pode ter dado a visibilidade que faltava à candidatura.

A maior dúvida parece ser se o quinto ator: Anthony Hopkins ("Dois Papas") ou Jamie Foxx ("Tudo Pela Justiça", estreia dia 16)? E será mesmo que são mais fracas as hipóteses de Willem Dafoe ("O Farol", sem estreia prevista para Portugal) ou Song Kang-Ho ("Parasitas")?

As maiores dúvidas encontram-se nas atrizes secundárias: Laura Dern ("Marriage Story") e Margot Robbie ("Bombshell" ou "Era Uma Vez...") parecem seguras. Provavelmente também é o caso de Jennifer Lopez.

As outras candidatas possíveis são bem fortes: Nicole Kidman ("Bombshell"), Florence Pugh ("Mulherzinhas"), Annette Bening ("The Report", da Amazon Prime), Scarlett Johansson ("Jojo Rabbit"), Kathy Bates ("O Caso de Richard Jewell") e Shuzhen Zhao ("A Despedida").

As dúvidas serão tiradas poucos depois das 13h00 (hora de Lisboa) desta segunda-feira, em direto de Los Angeles. Com as (nossas) atenções numa pessoa, Regina, que fez uma curta sobre o seu tio Tomás...

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