A igualdade de direitos das mulheres e dos nativos-americanos foram o tema da noite na 11º Governors Awards, em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entregou ontem os seus troféus honorários. Distinguidos com Óscares de carreira foram os realizadores David Lynch e Lina Wertmüller (a primeira mulher nomeada na categoria competitiva) e o ator Wes Studi, enquanto a  atriz Geena Davis foi homenageada pelo seu ativismo com o prémio humanitário Jean Hersholt.

Com Lina Wertmüller e Geena Davis o tema geral dos discursos foi a igualdade de direitos e de acesso das mulheres em Hollywood, enquanto que no caso de Wes Studi o foco foi o reconhecimento que ainda há por fazer do papel da comunidade dos nativos americanos no cinema.

Veja as estrelas na passadeira vermelha

Agora com 91 anos, a italiana Lina Wertmüller tornou-se, em 1976, a primeira mulher a ser nomeada para o Óscar de Melhor Realização e ainda de Argumento Original com "Pasqualino das Sete Beldades". A realizadora Jane Campion, a segunda nomeada ao troféu, por "O Piano", foi uma das que falou no tributo, questionando "Como é que se corrigem séculos de dominação patriarcal? Tudo começou com Lina Wertmüller", fazendo notar que ao longo de mais de 90 anos houve 350 homens nomeados ao Óscar de Melhor Realização e apenas cinco mulheres. Greta Gerwig, a quinta nomeada na categoria, disse que a cineasta italiana era a "madrinha de todas nós.

Isabella Rosselini traduziu o discurso da realizadora italiana, que recebeu uma das maiores ovações da noite: "ela gostaria de mudar o Óscar para um nome feminino. Ela gostaria de chamá-lo de Anna. Mulheres na sala, por favor gritem "queremos Anna, um Óscar feminino!"

Assistente de Federico Fellini em "8 1/2", Wertmüller focou muito da sua carreira em questões políticas e sociais em sátiras da sociedade e costumes italianos onde ainda se destacam "Os Inativos" (1963), "Ferido na Honra" (1972), "Filme de Amor e Anarquia" (1973) e "Insólito Destino" (1974)

Igualdade de direitos como palavra de ordem

Na mesma toada foram os discursos em redor de Geena Davis, a 39ª personalidade a receber o Jean Hearsholt Humanitarian Award, que celebra as contribuições dos artistas para causas humanitárias, distinguindo no caso de Davis a forma como a atriz se tem batido nos últimos anos pela paridade entre homens e mulheres nos mais diversos ramos da profissão. "A mensagem que estamos hoje a enviar é que homens e rapazes são muito mais importantes para nós do que mulheres e raparigas. No que quer que estejam a trabalhar agora, aumentem o numero de personagens femininas... e depois, escolham-me a mim!", sublinhou, com uma nota final de humor.

No cinema, Davis ganhou o Óscar de Melhor Atriz Secundária por "O Turista Acidental" (1988) e foi ainda nomeada por "Thelma & Louise" (1991), um dos fortes papéis femininos destacados pela Academia, juntamente com "A Mosca" (1986), "Os Fantasmas Divertem-se" (1988), "Liga de Mulheres" (1992) e "A Profissional" (1996).

Por seu turno, o índio Cherokee Wes Studi, um dos mais reconhecidos atores nativos americanos de Hollywood, afirmou que "já não era sem tempo", referindo que "estou muito orgulhoso por estar aqui esta noite como o primeiro indígena nativo americano a receber um Óscar da Academia".

Studi foi um inesquecível Magua em "O Último dos Moicanos" (1992), mas o seu primeiro filme, uma produção independente intitulada "Powwow Highway" (1989), lançou-o para uma carreira onde se destacam também "Danças com Lobos" (1990), "Jerónimo - Uma Lenda Americana" (1993), "Heat - Cidade Sob Pressão" (1995), "O Novo Mundo" (2005) e "Avatar" (2009).

David Lynch, um dos mais prestigiados realizadores do cinema atual, foi, como lhe é habitual mais parco nas palavras de agradecimento: "À Academia e a todos os que me ajudaram ao longo o caminho, obrigado. [Dirigindo-se ao Óscar] Tens uma cara muito bonita. Obrigado".

O cineasta foi nomeado quatro vezes para as estatuetas: pela realização e argumento adaptado de "O Homem Elefante" (1980), e pela realização de "Veludo Azul" (1986) e "Mulholland Dr." (2001). Os dois últimos costumam surgir nas listas de melhores das respetivas décadas dos críticos de cinema.

Em 1977, fez o seu primeiro filme, "Eraserhead" ("No Céu Tudo É Perfeito" em Portugal) catapultou-o instantaneamente para um culto que se prolongou até aos nossos dias e onde, além dos filmes que lhe valeram nomeações, estão "Duna" (1984), o vencedor da Palma de Ouro de Cannes "Um Coração Selvagem" (1990), "Estrada Perdida" (1997), "Uma História Simples" (1999) e "Inland Empire" (2006).

A 11º edição dos Governors Awards decorreu no Hollywood & Highland Center, numa cerimónia mais informal e sem transmissão televisiva, que existe desde 2009 e para onde foram transferidos os Óscares honorários outrora entregues durante a própria cerimónia de entrega dos Óscares.