À frente do fenómeno está Guetty Felin, com "Ayiti Mon Amour", uma longa-metragem que retrata o luto da nação após o terramoto e que recentemente foi anunciado como o primeiro filme a representar o país caribenho na categoria de melhor filme estrangeiro nos Óscares.

Dez dias depois do desastre, esta haitiana viajou a Port-au-Prince num avião de resgate. Felin ainda se lembra das cenas que encontrou quando aterrou. "Nunca antes tinha sentido o cheiro da morte, corpos por todos os lados. Eu só pensava: 'O que é este cheiro?', por toda a cidade, era simplesmente devastador", disse à AFP.

As escolas, hospitais e infraestrutura desta nação das Caraíbas ficaram destruídos. O sismo de 7,0 graus de magnitude deixou 300.000 feridos e 1,5 milhão de pessoas sem casa, no país mais pobre da América Latina.

Sete anos depois, "Ayiti Mon Amour" representa não só a emergência de uma nova voz na cinematografia haitiana, mas também um marco na reconstrução cultural do país, ao tornar-se a primeiro longa-metragem filmada no país realizada por uma mulher.

Aproveitando o seu trabalho anterior em documentários, Falin imprime as realidades do Haiti atual - os cortes de luz, a escassez de água e a ameaça das mudanças climáticas - com uma narrativa que ressalta o seu lado místico.

Carta de amor ao país

Em Kabic, um pequeno povoado de pescadores onde a água foi cobrindo a terra em consequência das mudanças climáticas, a câmara de Felin mostra como a vida mudou cinco anos depois do terramoto.

Um adolescente que chora a morte do seu pai descobre que desenvolveu um super-poder eletrizante, enquanto um velho pescador que fala com a sua vaca pensa que a cura para a doença da sua esposa pode estar no mar.

Por outro lado, a bonita e misteriosa musa de um romancista, que é a personagem principal do seu livro, decide deixá-lo e seguir seu próprio caminho.

Nascida em Port-au-Prince, Felin viveu a sua infância e adolescência entre Nova Iorque e o Haiti, e depois passou uma temporada artística em Paris, para onde foi para estudar cinema e acabou por ficar 20 anos.

Felin apaixonou-se pelo cinema nos drive-ins de Port-au-Prince, onde ia durante a ditadura de Francois "Papa Doc" Duvalier, que foi seguido pelo seu despótico filho Jean Claude, ou "Baby Doc".

"Houve momentos em que temíamos que alguém pudesse levar-nos embora daqui. Naquela época, a fragilidade da vida (...) inspirou-me totalmente", contou.

"Ayiti Mon Amour", que está à procura de um distribuidor nos Estados Unidos, conta com apenas um ator profissional, enquanto o resto do elenco e muitos outros colaboradores saíram da comunidade e da própria família de Felin.

A indústria cinematográfica no Haiti já estava a sofrer antes do terramoto. A última sala de cinema tinha  fechado um ano antes, num contexto de pirataria crescente, e nenhum filme foi projetado num espaço público cinco anos depois disso.

"É difícil fazer cinema num lugar como o Haiti, porque acontece sempre algo que é prioritário, seja a instabilidade política ou um desastre", disse Felin.

O filme surgiu dos escombros de edifícios destruídos pelo sismo, mas Felin, que perdeu um amigo próximo na tragédia e diz que se sente "culpada de sobreviver", não queria que a longa-metragem fosse apenas sobre o luto, mas também uma carta de amor ao seu país.

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