Terry Gilliam já está em Cannes e comentando os últimos desenvolvimentos à volta de "O Homem que matou Don Quixote" (e não "Dom", como o livro), disse numa entrevista que Paulo Branco abusou da sorte e acabou por se "auto-suicidar" no Festival de Cannes. E ainda lhe chamou "louco" como Dom Quixote.

O produtor português tentou impedir judicialmente a exibição do filme no encerramento do festival de Cannes e ainda a intenção de estreia comercial nas salas de cinema em França.

O tribunal de Paris não lhe deu razão, mas salvaguardou que os direitos continuam a pertencer à Alfama Films e a Paulo Branco.

Existe uma disputa legal à volta do contrato de produção assinado em 2016, mas o processo saiu gorado. Terry Gilliam pediu a seguir a anulação do contrato com a Alfama Films e avançou com outros produtores, mas, em 2017, o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele contrato continuava válido.

"De certa forma ele cometeu auto-suicídio aqui em Cannes. A [produtora] Océan Films aqui, os distribuidores franceses, ficaram tipo 'Que se lixe, ainda vamos distribuir o filme à mesma'. Isso é o que acontece. O Paulo estava a mandar todas aquelas cartas a dizer 'Tenho os direitos do filme, é meu, não o podem mostrar.' E as pessoas — mesmo aquelas que nem acreditavam — ficaram preocupadas. Quando um tipo começa a processar, toda a gente simplesmente se afasta. Mas acho que a forma como Cannes fez frente, e a forma como a Océan continuou a fazer frente, voltou a dar coragem agora às distribuidoras", disse Terry Gilliam ao Deadline Hollywood.

Paulo Branco

Recordado os mais de 20 anos que demorou até conseguir fazer o filme, Terry Gilliam comparou ainda Paulo Branco à personagem principal.

"Passei por nem sei quantos produtores ao longo dos anos e a coisa interessante é que os produtores que se chegaram à frente eram tão loucos como Quixote. Eles eram os sonhadores, não eu. Sou o Sancho Pança; sou o realista. Porque a luta se tinha tornado tão famosa, eles chegaram todos com a ideia 'Vou ser eu a mostrar ao mundo que sou o melhor'. Finalmente chegou ao Paulo, que fez um trabalho maravilhoso a mostrar ao mundo", explicou a rir.

O imbróglio jurídico levou a Amazon a desistir da distribuição do filme nos EUA, mas isso também não aflige Gilliam, que opta pela filosofia de que toda a publicidade é boa.

"Não estou preocupado. Existe muito interesse, essa é a coisa boa. Correu de forma muito interessante. E todas as pessoas que agora estão interessadas nem sequer ainda viram o filme; toda a publicidade está a ter um bom efeito por si mesmo", garantiu.