O filme "Mabata Bata", do realizador moçambicano Sol de Carvalho, é o distinguido da primeira edição do Prémio António Loja Neves, anunciou na terça-feira a Federação Portuguesa de Cineclubes (FPC), que entrega o galardão no próximo dia 18.

"Este é um prémio que visa homenagear o cinema africano de expressão lusófona e, de forma póstuma, um grande promotor destas cinematografias", lê-se no comunicado da FPC, referindo-se ao realizador, crítico e cineclubista que dá nome ao galardão, atribuído este ano pela primeira vez.

Coproduzido pela Promarte e a Bando à Parte, "Mabata Bata" é “um filme que se destaca pela sensibilidade do seu olhar humanista e solidário e pela atualidade da sua temática, mesclando com inteligência e delicadeza a tradição cultural africana com as feridas recentes e ainda não saradas da guerra civil em Moçambique", disse o júri constituído pela programadora Isabel Santos, o realizador Luís Filipe Rocha e pelo presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso.

Atribuído "em coprodução com a Medeia Filmes", o prémio será entregue "no próximo dia 18 de setembro, às 21:30, no Espaço Nimas, em Lisboa", com a presença de Sol de Carvalho e do produtor Ricardo Freitas, indica o comunicado da FPC.

"Seguir-se-á a exibição do filme premiado, 'Mabata Bata'", acrescenta a organização.

Baseado no conto de Mia Couto "O Dia Em Que Explodiu Mabata Bata", o filme fala de Azarias, um jovem pastor "que um dia vê o seu melhor boi, Mabata Bata, explodir", por causa de uma mina terrestre.

Ao incidente, sucede a fuga do rapaz para a floresta, por temer represálias, enquanto a avó e um tio tentam convencê-lo a voltar a casa.

Com fotografia de Jorge Quintela, "Mabata Bata" é protagonizado por Emílio Bila, Wilton Boene e Medianeira Massingue.

O realizador João Luís Sol de Carvalho nasceu na Beira, Moçambique, em 1953, cresceu em Inhambane, estudou cinema no Conservatório Nacional de Lisboa, e trabalha como jornalista, editor, fotógrafo e produtor, no país de origem.

"Mabata Bata" era um dos primeiros seis filmes candidatos ao Prémio António Loja Neves, criado pela FCC para homenagear o realizador e cineclubista.

"Arriaga", de Welket Bungué, da Guiné-Bissau, "Comboio de Sal e Açúcar", de Licínio Azevedo, de Moçambique, "Homestay", da cabo-verdiana Lolo Arziki, e as produções são-tomenses "O Canto do Ossobó", de Silas Tiny, e "Sonho Longínquo no Equador", de Hamilton Trindade, eram os restantes finalistas.

Os seis filmes tinham sido escolhidos pelo júri, a partir de 50 candidaturas apresentadas à organização, como disse, em abril, o presidente FCC, António Costa Valente.

"António Loja Neves tinha uma particular estima pelo cinema africano e achámos que este prémio era imprescindível", disse então à agência Lusa.

O prémio, não monetário e de caráter bienal, foi criado para "promover e premiar a cinematografia produzida nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa", de acordo com o regulamento.

São nomeados filmes que tenham participado em atividades competitivas ou festivais organizados por cineclubes ligados àquela federação.

António Loja Neves, jornalista, escritor, realizador, programador e cineclubista, morreu em maio de 2018, aos 65 anos.

Esteve na fundação da Federação Portuguesa de Cineclubes, da Associação Pelo Documentário (Apordoc) e do Panorama - Festival do Documentário Português, foi coorganizador dos Encontros Internacionais de Cinema de Cabo Verde e comissariou mostras de filmes lusófonos em vários países, do Brasil a Moçambique.

Foi ainda diretor da revista Cinearma, passou pela Cinema Português e pelo semanário África. Realizou os documentários "Ínsula" (1993) e "O silêncio" (1999), este com José Alves Pereira.