Os realizadores deveriam usar a tecnologia para servir a sua 'voz', em vez de temer que ela acabe com a indústria cinematográfica, disse o lendário cineasta de Hollywood Martin Scorsese, recebido como uma divindade em Berlim na terça-feira.

“Não creio que o cinema esteja a morrer, não, acho que se está a transformar”, declarou durante uma conferência de imprensa na Berlinale, onde foi galardoado com um Urso de Ouro honorário por toda a sua carreira.

Com 81 anos e nomeado pela décima vez para o Óscar de Melhor Realização por “Assassinos da Lua das Flores”, Scorsese falou sobre o cinema da sua juventude.

“Se quiséssemos ver um filme íamos ao cinema – um cinema bom ou um cinema mau, mas (...) foi sempre uma experiência coletiva”, disse.

Com a evolução atual “tão abrangente e rápida” na tecnologia de entretenimento, “a única coisa que ]os cineastas] conseguem realmente manter é a voz individual”.

Para o realizador de “Taxi Driver”, cujos vídeos lúdicos com a filha Francesca o tornaram uma estrela das redes sociais, pouco importa o meio: “A voz individual pode ser expressa no TikTok ou num filme de quatro horas ou numa minissérie de duas horas".

"Não penso que deveríamos deixar a tecnologia assustar-nos. Acho que não nos tornamos escravos da tecnologia", notou.

“Dominemos a tecnologia para a colocar na direção certa”, elaborou, convidando os espectadores a focarem-se na "voz" dos realizadores, evitando "consumir e jogar fora".

Martin Scorsese

Scorsese recomendou voltar sempre às grandes obras: “Talvez se virmos o filme 30 anos depois, o filme mudou (quando), na realidade, o filme é o mesmo, mas nós é que mudámos”.

“Pode-se crescer com filmes, como ouvir as sinfonias de Beethoven – elas estão sempre a mudar”, acrescentou.

Questionado sobre os seus filmes recentes favoritos, Scorsese citou "Vidas Passadas", de Celine Song, e "Dias Perfeitos", de Wim Wenders, também na corrida aos Óscares e ainda em exibição nos cinemas portugueses.

Após a cerimónia das estatuetas douradas a 10 de março, o realizador diz que se quer concentrar no seu próximo projeto, que provavelmente tratará de um dos temas recorrentes do seu trabalho, a fé católica, esperando que seja “instigante” e ao mesmo tempo “divertido”. ." .

Scorsese disse que se encontrou várias vezes com o Papa Francisco e discutiu com ele “novas formas de pensar sobre os fundamentos do Cristianismo”.

O Festival de Cinema de Berlim decorre até domingo, com os premiados anunciados um dia antes.