"A prior prisão é a autocensura. Podemos passar alguns anos dentro de uma prisão, mas na autocensura pode aprisionar-nos a vida inteira", disse a artista russa, de 31 anos, antes de atuar em São Paulo na última quinta-feira à noite.

Vestida toda de preto, com exceção do característico capuz amarelo que usava na cabeça, Alyokhina subiu ao palco durante o festival Verão Sem Censura, organizado pela prefeitura paulistana com a proposta de exibir espetáculos que foram alvo de censura em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro.

A jovem usou o espaço para apresentar a causa que defende, além de mostrar a trajetória das Pussy Riot desde o conhecido protesto contra o presidente Vladimir Putin, em 2012, numa igreja ortodoxa de Moscovo.

"Acreditamos na história que nos contaram, mas onde está a revolução?", cantou Alyokhina e os outros três elementos do grupo no concerto em São Paulo, cujo cartaz era uma ilustração no qual desenhos de lixo e resíduos tóxicos formam o rosto de Bolsonaro.

"Tenho a certeza de que o Estado, o governo, não deveria dizer aos artistas o que devem ou não fazer, porque isso não tem que ver com eles. E é por isso que estamos num festival contra a censura", ressaltou Alyokhina.

A artista lamenta as recentes tentativas de censura contra artistas brasileiros, mas considera que "o mais difícil foi saber do assassinato de Marielle", disse.

A agenda de Alyokhina, que segue viagem pelo país com o seu filho adolescente, terá passagens pelo Recife e pelo Rio de Janeiro, onde lançará a edição brasileira do seu livro "Riot Days" (título sem tradução para português). A obra traz reflexões pessoais e apresenta a sua experiência durante o tempo em que esteve na prisão.

"A cultura e a arte representam perigo porque são [voltadas] para as pessoas. Por isso os ditadores têm tanto medo da arte. Mas isso não é motivo para pararmos [de agir] porque temos a responsabilidade de continuar", argumenta a ativista, que se mostra otimista ao notar sinais de maior resistência no seu país.

"A Rússia está cada vez pior. O que há de positivo é que começamos a reunir-nos e a protestar. Somos diferentes, temos visões políticas que às vezes são distintas, mas todos estamos em consenso quanto à liberdade de expressão e de imprensa. Tanto os cidadãos comuns como os artistas famosos arriscam a prisão ao protestar. Mas ninguém deixa de o fazer", acrescenta.

Ao dividir o palco com a cantora Linn da Quebrada, Alyokhina gritou: "Sei que no inferno serei uma personalidade emérita".

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