A escritora indígena Eliane Potiguara disse à agência Lusa que os povos originários do Brasil precisam buscar protagonismo e contar suas histórias para fortificar a resistência ao que classificou de política de extermínio do Governo do Brasil.

"Nós estamos em busca do protagonismo indígena [na literatura]. Que as necessidades básicas, os direitos humanos dos povos indígenas se tornem visíveis. Temos vivido os últimos séculos e observado que a questão indígena sempre esteve nas margens [da sociedade]. Está na hora de os povos indígenas colocarem suas questões, demandas e necessidades", disse.

"É um momento de maior importância este protagonismo indígena na história do Brasil actual. Nossa história tem sido vilipendiada e roubada. Temos de ser nós, indígenas, a contar as nossas histórias e não professores, antropólogos e pesquisadores. Estamos um pouco fartos desta situação e, por isto, temo-nos tornado escritores e profissionais liberais", acrescentou.

Autora do romance a "Metade Máscara, Metade Cara" e de textos publicados em livros infantis, de contos e antologias poéticas, Potiguara participou esta quinta-feira na 3.ª edição da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador, no Brasil.

Para a escritora, o surgimento de autores indígenas na literatura produzida no Brasil é um movimento relativamente novo, mas que tem crescido em termos do número de criadores e do público leitor.

"A questão autoria é uma coisa nova, vem de uns 20 anos para cá, mas explodiu. Foi um momento novo, foi um momento de resgatarmos a nossa dignidade contando as nossas histórias e transformado essa oralidade dos nossos avós, dos nossos ancestrais [em escrita], para colocar no papel", frisou.

"Precisávamos de dar um grito de 'basta' para toda a sociedade brasileira e dizer 'nós estamos aqui'. A literatura indígena é, para nós, uma forma de luta, de resistência. Há espaço, sim, [para autores indígenas], porque os escritores têm capacidade para escrever e conhecimento da língua portuguesa e da sua língua original. Há espaço para ocuparmos este mercado", completou.

Conhecida por defender na sua obra os direitos das mulheres indígenas que foram caladas pela colonização e pelo racismo, Potiguara explica que, por ter quase 70 anos, hoje, faz numa militância mais política e ideológica.

Questionada sobre a política 'indigenista' do Governo do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que já declarou ser contra a demarcação de territórios indígenas e defendeu a introdução de elementos da sociedade capitalista dentro das reservas, como, por exemplo, a atividade da indústria mineira, Potiguara disse que o país caminha na direção de um novo genocídio dos povos originais.

"Esse governo atual, o Governo Bolsonaro [é exemplo de] um fascismo que chegou no Brasil. Esta política que eles estão criando é de extermínio, de genocídio. Invadindo as terras, permitindo assassinatos dentro de terras indígenas (...). É uma política que não veio nos beneficiar. O Governo Bolsonaro, para mim, é um Governo genocida", concluiu.

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