“A gente está vivendo um golpe, em grande parte mediático, conduzido pela maior emissora do país [TV Globo]”, descreve Gustavo Ruiz, alertando que “essa falta de imparcialidade é perigosa”.

As eleições de outubro no país dominam todas as conversas entre brasileiros. “Ninguém sabe. Os candidatos ainda não foram totalmente definidos. Tem um grande líder no Brasil que está preso [Lula da Silva]. É preciso esperar para entender as cenas dos próximos capítulos. A gente não sabe o que vai acontecer”, analisa Tulipa.

O ex-Presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, que lidera as sondagens, foi condenado por crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais em duas instâncias da justiça brasileira e dificilmente terá a campanha aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. Ainda assim, deverá oficializar a candidatura pelo Partido dos Trabalhadores.

“Tem sido muito interessante chegar a Portugal e ver todo o mundo muito satisfeito com o seu Presidente [Marcelo Rebelo de Sousa]. A gente está muito longe disso”, compara a cantora, referindo-se ao atual chefe de Estado brasileiro, Michel Temer.

Sobre o aumento da popularidade do candidato Jair Bolsonaro, Gustavo diz que tem “muito receio, muito medo”.

O deputado ligado à extrema-direita Jair Bolsonaro, que já oficializou a candidatura e lidera algumas sondagens e noutras aparece em segundo lugar, “é um lunático, que tem propostas absurdas, como o armamento da população, vínculo com a bancada evangélica, pensamento e ideologias completamente de direita, racistas, fascistas, perigosas”, descreve Gustavo.

“A gente tenta conversar com os nossos próximos, fazer a nossa parte para que um cara como ele realmente não chegue ao poder. Isso representa um perigo muito grande para o país”, alerta.

“É por meio da educação que a gente vai chegar em algum tipo de solução. (…) A militância que a gente deve fazer é uma militância muito pedagógica”, tentando “explicar a ameaça que isso significa”, propõe Tulipa, reconhecendo que o Brasil está “dividido” e tem faltado diálogo.

A banda brasileira apresentou em Sines o último disco, “Tu”, que é “um exercício zen”, um trabalho “totalmente cru, totalmente acústico, só violão e voz”, descreve Tulipa.

“A gente está vivendo um bombardeio, está no ápice da dispersão coletiva. Este disco é (…) uma volta à essência da composição”, onde a canção fica “escancarada”, explica Gustavo.

Filhos de um pai jornalista que já “viu muita coisa”, os irmãos Ruiz gostavam de ver também o jornalismo “regressar ao que a gente tem de mais orgânico”.

As perguntas, por exemplo, “mudaram”, assinala Tulipa, recordando que, “antigamente”, os jornalistas “mergulhavam nos discos”, mas, hoje, “por conta das redes sociais, (…) o aprofundamento na informação está ficando cada vez mais raro”.