O baterista Jimmy Cobb, músico que acompanhou Miles Davis durante a gravação do álbum "Kind Of Blue", morreu este domingo, dia 24 de maio, em sua casa, em Nova Iorque. O artista tinha 91 anos.

Segundo o Libération, a causas da morte do baterista não foi ainda divulgada.

O baterista Jimmy Cobb, a quem coube o concerto de abertura do 18º Guimarães Jazz, em 2009, teve uma extensa carreira, que se cruzou com os maiores nomes do jazz dos últimos 60 anos.

"Kind Of Blue" é o álbum mais vendido na história do jazz e considerado um verdadeiro marco da história da música. O disco foi editado pela Columbia Records em Agosto de 1959 e teve um impacto que alastrou para além do universo do jazz, influenciando outros tipos de artistas da música popular como The Allman Brothers ou Carlos Santana, e compositores como Steve Reich e Philip Glass.

Além de Jimmy Cobb, participam também no álbum de Miles Davis, com a duração de apenas 37 minutos, os saxofonistas John Coltrane e Julian Adderley, bem como os pianistas Bill Evans e Wynton Kelly e o baixista Paul Chambers.

Jimmy Cobb conheceu Miles Davis através de “Cannonball” Adderley e, pouco depois, foi convidado pelo trompetista para integrar o seu concerto porque “estava no lugar certo à hora certa”.

“Acontece que o Philly Joe Jones, que era o baterista do Miles, era muito conhecido e tinha o seu próprio grupo e chegava muitas vezes tarde, ou faltava, aos concertos e gravações. Por isso me foram buscar como substituto quando o Miles estava a gravar o 'Porgy & Bess', onde apareço em metade dos temas, com o Philly Joe na outra metade”, contou à Lusa, em 2009.

Começou como substituto “sempre a olhar para a porta e a fazer figas para que o Philly Joe não aparecesse”. Acabou por passar a efectivo e assim gravou “Kind of Blue”.

“Para mim era mais uma sessão de gravação. Praticamente não ensaiámos. Em cada uma das duas sessões o Miles trouxe as partituras e disse-nos o que queria que fizéssemos. Fez-se tudo muito rápido, praticamente num só ‘take’. Não acredito que qualquer de nós imaginasse que ia ser um disco tão grande”, disse o baterista.

Cobb foi sempre um autodidacta, pois nessa altura não havia escolas de jazz e praticava-se um tipo de aprendizagem muito especial entre os músicos, que aprendiam uns com os outros e ensinavam os mais novos.

“Havia grandes orquestras como as do Earl Hines, Dizzy Gillespie ou a do Billy Eckstine. Os melhores músicos estavam ali, muita música, e a minha formação fez-se assim, ainda hoje acho que é bem melhor do que andar numa escola”, considerou, há 11 anos.

Os seus mestres favoritos, embora informais, foram alguns dos maiores nomes da bateria de jazz. “Kenny Clarcke, mas sobretudo Max Roach e Art Blakey, Gene Krupa e Buddy Rich, Jo Jones e outros bateristas de grandes orquestras, como o Alvin Stoller ou o Shadow Wilson que hoje já não são tão conhecidos”, disse.

Jimmy Cobb entrou na alta-roda da música acompanhando Earl Bostic, um saxofonista virtuoso que se tornou numa estrela pop nos anos 50, ao trocar o jazz pelo Rythm & Blues. Bostic fazia digressões com sua big band, com a vocalista Dinah Washington, que abria as sessões a cantar com Wynton Kelly no piano, Keeter Betts no contrabaixo e Jimmy Cobb na bateria, antes de entrar o resto da orquestra.

Nestas sessões nasceu uma ligação sentimental entre a vocalista e o baterista, que durou quatro anos.

“Tive sempre muita sorte, estava no lugar certo na hora certa e encontrei as pessoas certas”, afirmou.

Antes, já tinha acompanhado Billie Holiday e, muitos anos mais tarde, viria a tocar durante anos com Sarah Vaughan, o que significa que esteve com três das maiores vocalistas de jazz de sempre, faltando apenas Ella Fitzgerald.

“A Billie Holiday estava então ainda num ponto alto da sua carreira, foi muito bom tocar com ela. Eu era muito novo, estava a aprender, ela chamava-me Youngblood. Foi um privilégio tocar com vocalistas desta estatura, cada concerto é uma experiência diferente”, considerou em entrevista à Lusa, em 2009.

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