A liberdade e os valores do 25 de Abril são os guias condutores do Festival de Música dos Capuchos, em Almada, que se realiza de 29 de maio a 21 de junho, disse o seu diretor artístico, Filipe Pinto-Ribeiro.

O Festival “celebra os ideais de liberdade com uma programação que reafirma a missão de promover o acesso democrático à cultura”, disse à agência Lusa o pianista Filipe Pinto-Ribeiro.

“Seguindo o conceito identitário do Festival dos Capuchos, percorreremos um arco de cinco séculos de criação musical, da Renascença à música contemporânea, com a liberdade como denominador comum”.

O Festival encerra com a estreia de uma obra, inspirada em Natália Correia e no 25 de Abril, da compositora portuguesa radicada em Nova Iorque Andreia Pinto Correia.

Sobre a programação, Pinto-Ribeiro afirmou: “Haverá concertos sobre a liberdade de compor, e de recompor, no século XVI, durante regimes ditatoriais e na atualidade, com novas obras baseadas em canções revolucionárias”.

“Teremos ainda o jazz, concertos dedicados a compositores que foram e são símbolos de liberdade, como Paganini, Chopin e Schostakovich”, acrescentou.

Este ano, pela primeira vez, o Festival programa alguns concertos para o Auditório Fernando Lopes-Graça, em Almada, além dos habituais Teatro Municipal Joaquim Benite e o Convento dos Capuchos.

No dia 14 de junho, às 21:00, no Auditório Lopes-Graça, Júlio Resende com o Fado Jazz Ensemble apresenta “Filhos da Revolução”. O ensemble é constituído por Júlio Resende (piano), Bruno Chaveiro (guitarra portuguesa), André Rosinha (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria e percussão).

“Filhos da Revolução” é o 10.º álbum de Resende, e “propõe uma ode à paz, ao livre pensamento e à aniquilação da Censura, é também uma viagem pela alma musical portuguesa, inspirada pela celebração da Liberdade nunca garantida, pelos 50 anos da Revolução dos Cravos e pelo fim das guerras coloniais”.

Entre os diferentes participantes no certame, o pianista Filipe Pinto-Ribeiro destacou a Orquestra Sinfónica de Paris “Consuelo” que, sob a direção de Victor-Julien Laferrière, abrirá o festival com a 5.ª Sinfonia, de Beethoven, “poderosa obra-prima que evoca a luta contra adversidades e o triunfo da liberdade”. O concerto de abertura do festival é no dia 29 de maio, às 21:00, no Teatro Municipal Joaquim Benite.

“Destaque-se ainda os concertos de estreia em Portugal de outros agrupamentos da vanguarda musical europeia, como o Paganini Ensemble, de Viena, e a Orquestra de Câmara de Berlim 'Metamorphosen', sob a direção de Wolfgang Emanuel Schmidt”, acrescentou.

A Orquestra de Câmara de Berlim “Metamorphosen”, sendo solista o violoncelista Wolfgang Emanuel Schmidt, que também a dirigirá, atua no dia 16 de junho, às 18:00, no Joaquim Benite, apresentando um programa com a Serenata, de Edward Elgar, o Concerto para Violoncelo e Orquestra N.º 1, de Joseph Haydn, e a Serenata, de Pyotr Tchaikovsky.

O Paganini Ensemble toca no dia 07 de junho, às 21:00, nos Capuchos, um programa constituído pelo Quarteto N.º 1, o Terzetto e “La Campanella”, e o Quarteto N.º 9, todos de Niccolò Paganini.

Entre os solistas internacionais, Pinto-Ribeiro realçou “a lendária pianista Elisabeth Leonskaja”, a violinista alemã Carolin Widmann, o violoncelista suíço Christian Poltéra e o jovem pianista ucraniano Roman Fediurko que, no ano passado, venceu o Concurso Internacional Horowitz. Na sua estreia em Portugal interpretará obras de Chopin.

Leonskaja toca peças de Mozart, Webern, Schubert e Beethoven, no dia 01 de junho, às 21:00, no Convento dos Capuchos.

Da programação faz parte a ópera “Na Colónia Penal”, de Philip Glass, sob direção musical do maestro Martim Sousa Tavares, com encenação de Miguel Loureiro, e movimento de Miguel Pereira, numa produção da estrutura O Rumo do Fumo.

A apresentação desta ópera, com libreto de Rudolph Wurlitzer, baseado no conto homónimo de Franz Kafka, “permite traçar um paralelo com a terrível memória da Colónia Penal do Tarrafal, o campo de concentração criado em 1936 pelo Estado Novo”.

No dia 08 de junho, às 21:00, nos Capuchos é apresentado o recital de violino e piano, “Change: Grândola e Outras Canções Revolucionárias”, por Elsa de Lacerda (violino) e Nathanaël Gouin (piano).

Este recital parte de uma iniciativa da violinista belga lusodescendente Elsa de Lacerda, que começando por “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, encomendou a compositores belgas e franceses obras que revisitam célebres canções que inspiraram ou refletiram momentos de revolução e de resistência, como “Independance Cha Cha”, “Strange Fruit”, “Apesar de Você” ou “Bella Ciao”, e deu origem ao álbum “Chance”, saído no ano passado, e que é apresentado no festival. Neste recital serão interpretadas peças de Gwenaël Grisi, Fabian Fiorini, Benoît Mernier, Harold Noben, Apolline Jesupret, Alexander Gurning e Nathanaël Gouin.

Paralelamente à programação musical, há um vetor sobre a literatura, as “Conversas dos Capuchos”, com curadoria e moderação do jornalista Carlos Vaz Marques, nesta edição dedicadas a três efemérides: o centenário da morte de Franz Kafka, o centenário do nascimento de Sebastião da Gama e os 500 anos de Luís Vaz de Camões, com a participação de Alberto Manguel, José Carlos Seabra Pereira, Maria Bochichio, Nuno Amado, José Gardeazabal e Viriato Soromenho-Marques.

No dia 31 de maio, às 21:00, no Convento dos Capuchos, o Festival presta homenagem ao escritor e gestor cultural António Mega Ferreira (1949-2022), através de três amigos seus.

Filipe Pinto-Ribeiro interpretará música da predileção de Mega Ferreira, o ciclo para piano “Quadros de uma Exposição”, de Modest Mussorgsky, que “é uma das mais belas homenagens póstumas, uma obra-prima composta por Mussorgsky em memória do seu amigo, o pintor e arquiteto Viktor Hartmann”. Por seu turno, a poetisa Filipa Leal e o ator Pedro Lamares lerão uma antologia de textos de Mega Ferreira, selecionados por um grupo de personalidades que acompanharam a sua vida e obra, como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a museóloga Simonetta Luz Afonso, o conselheiro do Centro Nacional de Cultura Guilherme d’Oliveira Martins, os jornalistas João Paulo Velez, José Carlos de Vasconcelos e Margarida Pinto Correia, o diretor cultural da Fundação EDP, José Manuel dos Santos, a escritora Patrícia Reis e o poeta Pedro Mexia, entre outros.

Nesta 4.ª edição da refundação do Festival, inicialmente idealizado por José Adelino Tacanho, após uma interrupção entre 2001 e 2020, será ainda realizado um conjunto de atividades de formação e sensibilização, nomeadamente, conversas antes dos concertos - “Prelúdios dos Capuchos” -, moderadas pelo diretor da Antena 2, João Almeida; uma visita ao Convento dos Capuchos, edificado por vontade do aristocrata Lourenço Pires de Távora, em 1558; a Caminhada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, onde se localiza o convento franciscano; e as “masterclasses” dos Capuchos, aulas abertas destinadas a jovens músicos e orientadas por professores dos conservatórios de Leipzig, na Alemanha, Lucerna, na Suíça, e Helsínquia, na Finlândia.