Ainda que, segundo a banda, “As Canções da Naifa” não seja um disco conceptual, mas sim um trabalho que surge no seguimento dos muitos pedidos para se registarem as versões que habitualmente tocavam nos concertos, estamos perante um álbum especial. Estivemos à conversa com a voz de A Naifa e Maria Antónia Mendes (Mitó) contou-nos como nasceu este disco e avançou com as novas datas para a promoção do mesmo ao vivo.

PP – Depois de quatro discos de originais, voltam à carga com um trabalho composto por versões de temas de artistas portugueses. Como surgiu a ideia de criar “As Canções da Naifa”?

Maria Antónia Mendes - O “As Canções da Naifa” foi pensado ao longo dos quase dez anos de existência da banda. No fim de cada concerto, onde apresentávamos as nossas versões das canções dos outros, choviam pedidos para que as mesmas fossem registadas. Nunca achámos esse passo relevante, mas neste fim de ciclo passou a fazer todo o sentido.

PP – Tal como sugere o texto que acompanha e apresenta o vosso novo álbum, Portugal está um pouco moribundo. Recordar e reviver alguns clássicos da música (moderna) portuguesa será a vossa quota-parte para “despertar a criatura”?

MAM - Uma das nossas rebuscadas maneiras de fazer ativismo, sim. A Naifa está claramente do lado da barricada que quer ressuscitar Portugal. Se estas canções servirem para isso, tanto melhor.

PP – Quais os critérios de escolha dos temas a recriar em “As Canções da Naifa”?

MAM - Todos foram tocados por nós em concertos nestes quase dez anos de banda. Portanto, não tivemos grande trabalho em selecioná-los agora. De todas as formas, ao longo deste tempo, quando escolhíamos uma música para a tornar nossa, ela fazia já parte do nosso imaginário musical. Crescemos a ouvir música portuguesa.

PP – Ao ouvir as vossas interpretações de, por exemplo, “Sentidos Pêsames”, “A Tourada” ou “Inquietação” - todos eles cantados, originalmente, por vozes masculinas - constato que a voz da Mitó confere um novo universo aos mesmos. Tiveram uma intenção de continuidade ou de rutura na conceção do álbum?

MAM - Não houve esse tipo de pensamento na conceção do álbum, pois, como já foi referido, os temas já tinham sido tocados por nós ao vivo. Mais do que continuidade ou rutura, quisemos que soassem a Naifa, ou seja, quisemos trazê-los para o nosso universo. E estamos contentes com o resultado!

PP – Para vocês, “As Canções da Naifa” é um álbum conceptual ou, acima de tudo, uma tomada de consciência em forma de registo “panfletário”?

MAM - Nenhum álbum da Naifa é conceptual. Não negando o nosso lado panfletário, apenas nos apeteceu partilhar e registar o que vivemos ao longo destes quase dez anos nos palcos.

PP – A vossa música tem uma poesia muito própria e tem como grande inspiração o “normal” quotidiano. Perante o atual cenário de Portugal, nesta - esperemos passageira - cabisbaixa existência encontram motivos que possam servir de inspiração para vossas futuras composições?

MAM - Sim, a depressão que anima Portugal é tema inesgotável de inspiração...

PP – Têm dado alguns concertos recentemente. Como tem sido a reação do público a este vosso novo trabalho?

MAM - Ainda não estamos a apresentar este disco específico ao vivo. Fizemos concertos este Verão, mas ainda a rodar o disco que saiu em 2012, “Não se deitam comigo corações obedientes”. Está prevista digressão nacional para apresentação das “Canções da Naifa” entre Fevereiro e Abril de 2014.

PP- Têm alguns planos no que toca a um eventual breve regresso a estúdio para gravar um novo álbum de temas originais, ou os próximos tempos vão ser dedicados a levar “As Canções da Naifa” a palco?

MAM - Para já, palco com eles!

Carlos Eugénio Augusto