Adrianaconta, actualmente, com dois álbuns, sendo o último "O Que Tinha de Ser", que já conta com algum sucesso.

Desde muito cedo, percebeu que a sua vida passava pela música. Toca vários instrumentos mas, curiosamente, a flauta é o seu instrumento de eleição.

Frequentou a Universidade Nova de Lisboa, onde acabou por não completar os estudos, uma vez que decidiu apostar na sua formação musical - uma formação numa das melhores escolas do mundo, A Berklee College of Music, em Boston,da qual sente uma enorme saudade.

Protagonista de alguns episódios caricatos, Adriana insiste que as dificuldades estão à vista de todos,masque épreciso acreditar e fazer o que se gosta, se quisermos mudar e melhorar o nosso rumo.

A cantora falou com o Palco Principal, numa conversa simples e sincera, onde expôs um pouco da sua vida e falou sobre o seu trabalho.

Palco Principal - A Adriana tinhasete anos quando começou a estudar música.Como surgiu essa paixão, ainda tão nova?

A - A paixão surgiu, precisamente,quando os meus pais me inscreveram na escola de música, onde tive oportunidade de me dedicara esta áreade uma forma mais séria. Antes disso, a minha única ligação com a música era um piano que tinha em casa.

PP - Mais tarde, aos 16 anos,viria a ingressaro curso de Línguas e Literatura Moderna na Universidade Nova de Lisboa.Foi uma opção temporária?

A - Sempre tive, a par com a música, uma grande paixão por línguas e literatura. Aliás, hoje ainda tenho. Mas apercebi-me que o meu forte era, realmente, a música.Quando ganheiuma bolsa para um curso da Berklee College of Music, em Boston, decidi que não havia como não ir, tendo acabado por abandonar o curso em Lisboa ao fim de alguns semestres.

PP - Como tomou conhecimento da existência dessa bolsa?

A - Simplesmente ouvi falar na Berklee, em Boston, e achei que seria uma boa opção ir estudar para lá, uma vez que é uma das melhores, senão a melhor em música contemporânea. Entretanto, ouvi falar que davam bolsas aos «novos talentos» e decidi concorrer com uma gravação - gravação que foi seleccionada. Posteriormente, pediram-me para realizar uma audição ao vivo, para a qual escolhi a cidade de Paris, por uma questão de proximidade.

PP - Estava à espera do resultado favorável que acabou por obter?

A - Na verdade, estava cheia de medo. Nunca tinha passado por uma experiência semelhante e os nervos surgiam naturalmente. Mas queria muito ganhar e, no fundo, estava confiante, pois tinha trabalhado imenso para atingir esse objectivo.

PP - Comofoi estudar numauniversidade como a Berklee?

A - Foi maravilhoso. Tive um ensino completo e muito feliz, aprendi muito, não só sobre música, mas também noutros campos. Foi mesmo muito bom. É uma universidade muito boa.

PP - Terminouum curso dequatro anos em apenas dois, pois, enquanto os seus colegas gozavam as tradicionais férias de Verão, a Adriana preferiu continuar a estudar. O que motivou essa opção?

A - Eu não gostava daquelas férias detrês meses, em que nada havia para fazer, a não ser apanhar sol. Para mim, aquelas duas a três semanas entre cada semestre eram o suficiente para descansar. Como estava a gostar imenso do curso, dispensei as férias, continuando com as aulas e com tudo o resto que estava a fazer no âmbito do curso.

PP - Concluído o curso, foi protagonista de um episódio caricato: quando foi festejar com uma amigao sucesso alcançado, esqueceu-se da carteira e acabou por ter de cantar para pagar a conta...

A - Pois foi, até hoje não voltei a esquecer-me da carteira! Mas eu acredito que tudo acontece por uma razão, efoi precisamente naquele local que comecei a construir o meu caminhocomo músico profissional, a cantar em bares, etc.

PP - Sentiu que, nessa noite, alguma coisa mudou?

A - Sem dúvida. Nessa noite, apercebi-me do que era, realmente,ser músico. Uma coisa é estar na escola, outra coisa é aplicar tudo o que se apreende. De certa forma, nessa noite iniciei uma outra escola, a escola da vida.

PP - Entretanto, viria a trabalhar como consultora - tarefa que acabou por abandonar, por não a realizar a 100%. É uma pessoa que gosta de viver experiências novas?

A - Sim, gosto. E tanto esse emprego como outros que viria a ter foram boas experiências, mas nenhum me realizava...

PP - Domina a guitarra e o piano, mas, curiosamente, o seu instrumento favorito é a flauta. Como surgiu essa paixão?

A - A flauta é um instrumento que me segue desde muito nova. Sinto-me muito à vontade com ele.

PP - Lançouo seu álbum de estreia aos 25 anos. Que sentimentos se apoderaram de si, quando viu o seu primeiro trabalho exposto?

A - Ainda não sou mãe - espero ser um dia -, mas penso que é uma sensação semelhante à de ver um filho nascer e apresentá-lo às pessoas. Um disco também é nosso durante muito tempo, algo a que dedicamos muito do nosso tempo, e depois, ao vê-lo nas lojas, apercebo-me que ele deixa de ser meu e passa a ser do público.É um enorme prazer. No entanto, ainda não tive tempo de assimilar tudo... O tempo passa tão rápido!

PP - Além de ter sido nomeado para os Globos de Ouro, o seu primeiro disco integrou, através dos seus temas, algumas telenovelas. Contava com tamanho sucesso, logo na primeira aventura?

A - Não, mas foi óptimo. Até então, nunca tinha ouvido a minha música na rádio, sequer. A primeira vez foi muito estranha, mas, ao mesmo tempo, muito boa. Nunca tinha, também, visto a minha música associada a imagem e foi incrível desfrutar disso. Tudo o resto - os prémios, os reconhecimentos, os media - é muito positivo, pois incentiva-me e faz-me continuar a trabalhar. Senti isso no primeiro álbum e, felizmente, continuo a sentir neste segundo.

PP - Este segundo trabalho, "O Que Tinha de Ser", é uma mistura de Jazz, Pope Latin World. Fale-nos mais sobre ele...

A - O meu primeiro álbum, "Adriana",é mais Pop/Rock; este é mais virado para o Jazz e para a Bossa Nova. Sinto que sou mais eu neste segundo trabalho. O primeiro fez todo o sentido na época em que foi lançado, mas agora, passado algum tempo, já não fazia mais. Muita coisa mudou, muita coisa evoluiu. Hoje, sinto-me mais madura e segura e, a nível músical, muito mais em linha das influências.

PP – Como correu a apresentação de "O Que Tinha de Ser", no passado dia 17 de Março, no Auditório do Montepio?

A – Correu lindamente! Está, aliás, disponível na internet para quem quiser ver, através deste link.

PP – Como é a relação da Adriana com os seus fãs?

A – Mantenho-me em permanente contacto com eles através das redes sociais - plataformas às quais sou muito ligada. Admiro um músico que fale e partilhe experiências com os seus fãs. Acho isso muito importante, mesmo.

PP – Como lida com as críticas negativas?

A – Lido bem com as críticas, principalmente com as construtivas. Considero-as muito importantes. Aceito o bom e o mau, é impossível agradar a toda a gente. Aliás, se não se falar mal, é porque ainda não existimos. É importante ouvirmos e lermos tudo, para aprendermos sempre mais e mais.

PP – É difícil viver da música em Portugal?

A – É difícil viver seja do que for nesta altura, por isso, mal por mal, mais vale fazer o que se gosta. O importante é sentirmo-nos bem e realizados -isso vai acabar por trazer os seus frutos.

PP – O que deve fazer um artista para se destacar de tantos outros?

A – Acima de tudo, é importante sermos nós próprios. Quando somos mais novos, queremos ser como os outros. Mas agora vejo queser diferente é bom, não só como pessoa, mas também na música.

José Aguiar