A história foi-se fazendo e os relatos sobre a chegada dos portugueses ao continente mãe foram-se revelando, com o território a ser desbravado por Fomos Pela Água do Rio, como acontecera, dias antes, no Coliseu dos Recreios. Ora num registo poético, quase declamatório, ora com a voz enovelada pela melodia, sob uma toada rítmica forte, o cantautor e os músicos que o acompanharam foram trabalhando o disco, perante um Coliseu do Porto que ficou por encher. Desengane-se, porém, quem possa pensar que, apesar do conceito, das referências e da instrumentalidade marcada pela firmeza da percussão, que a rítmica seja africana. Como fez questão de garantir o trovador, numa das suas primeiras abordagens à plateia, “não há aqui um ritmo africano”. A inspiração advém na totalidade da rítmica portuguesa, sendo que “tudo o resto é equívoco”.

No aproveitamento da interrupção das lides musicais, que se foram sucedendo sem grandes pausas, houve ainda tempo para homenagear a cidade do Porto e a Rua de Santa Catarina, de acordo com o cantor, de beleza inigualável, em tardes de Primavera. Para Arnaldo Trindade, presente na sala, pela coragem que o levou, nos anos 70, a gravar nomes como Fausto, José Afonso e Adriano de Oliveira, foi lançado um agradecimento, sob a forma de aplauso.

Por Altas Serras de Montanhas deu lugar ao interlúdio entre os dois discos que compõe este último lançamento de Fausto, correspondente a um duelo de baterias protagonizado por João Ferreira e Mário João Santos. A plateia, até então contida, e que se havia quase apenas manifestado no fim das canções, não se fez rogada e acedeu de bom grado ao convite de se juntar à festa, com as suas palmas. O momento de adesão equiparável ficou guardado para o final, quando os músicos e o cantor, abandonando os instrumentos que até então lhes couberam em missão, se juntaram na frente do palco e, com baquetas, tambores e um bombo, entoaram em coro Na Ponta do Cabo.

Ficou dito o adeus ao público portuense, mas não sem que o músico regressasse ao palco para mais uma cantiga. O encore de um tema só foi então dedicado aos “amigos virtuais”, a quem teria sido dado o privilégio de escolherem o tema de encerramento do espetáculo. Sem margem para grandes dúvidas, a votação on-line declarou Lembra-me um Sonho Lindo tema vencedor. Porém, como o tema não foi devidamente ensaiado, a vontade dos fãs não pode ser acatada. Navegar, Navegar pode muito bem não ter sido a canção eleita, mas, a julgar pela reação do público, que deimediato se levantou das suas cadeiras, não fez qualquer desfeita. A cantoria tomou conta do recinto, proporcionando um momento de alegria e união entre os músicos e os presentes que muitos revelaram ter pena que não tivesse acontecido mais cedo.

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: Isabel Cortez