O músico acompanhou Carlos Paredes durante 25 anos e foi apontado, por muitos colegas, como "o sombra" de Paredes, como o próprio contou, em 2012, numa entrevista à Lusa. O violista acompanhou posteriormente o guitarrista António Chainho, com o qual também gravou.

Na sua autobiografia, Fernando Alvim conta o seu encontro com o fado e a guitarra clássica: “O fado entrou na minha vida aos 14 anos quando assisti a um espetáculo ao vivo no Café Luso e ouvi pela primeira vez Amália Rodrigues a cantar. O fascínio que senti levou-me a aprender a acompanhar fado à viola com um violista de Lisboa”.

Na sua infância, Fernando Alvim tinha estudado violoncelo durante quatro anos, tendo crescido “num meio que cultivava a música por gosto”, como se pode ler na autobiografia. “Aos 23 anos adquiri, na oficina do guitarreiro Joaquim Grácio, a guitarra que me viria a acompanhar pela vida fora. Uma guitarra fabricada em madeira de plátano, na qual sobressaem os graves, e que resistiu a diferenças climatéricas enormes devido às inúmeras viagens que pelo mundo fez”, conta.

Numa viagem ao passado, Alvim recordou momentos históricos como os encontros com Carlos Paredes, Amália Rodrigues, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes ou José Afonso, entre outros. O músico recordou, por exemplo, uma viagem em 1964, durante a qual, devido a um furo, José Afonso compôs parte da peça “Grândola Vila Morena”.

“Foram inúmeras as gravações que fiz e todas elas especiais. Algumas inesperadas... Recordo um telefonema que recebi por volta das 23:00, do guitarrista Fontes Rocha, a pedido da Amália Rodrigues, para ir nessa noite gravar com ela um tema intitulado ‘Formiga Bossa Nova’, que era uma canção com o ritmo de bossa”, afirma. “Todas as gravações que fiz com o Carlos Paredes tiveram também um cunho muito especial. As horas passadas em gravações nos estúdios da Valentim de Carvalho, com o apoio do técnico de som Hugo Ribeiro, foram inesquecíveis”, escreve o músico que lembra ainda as sessões com o extinto Ballet Gulbenkian.

O musicólogo Rui Vieira Nery, em 2011, por ocasião da edição do álbum duplo "Os fados e as canções do Alvim", disse à Lusa que o violista e compositor "tocou guitarra elétrica com muitos dos pioneiros do Jazz em Portugal, como Ivo Mayer ou José Luís Tinoco”. O disco contou com a participação, entre outros, de Pedro Jóia, Camané, Ricardo Ribeiro, Ana Moura, Fafá de Belém, Raquel Tavares e Cristina Branco. “É uma espécie de apanhado da minha vida artística, porque eu não tive tempo para me concentrar o suficiente para compor durante o tempo em que estava com os espetáculos, designadamente no estrangeiro”, disse à Lusa, acerca do álbum, na altura da sua publicação.

O músico é natural de Vila Nova de Ourém, no distrito de Leiria, e tinha o diploma de médico analista. Em 2012 recebeu o Prémio Amália Rodrigues pelo Melhor Álbum “dentro do fado”, pelo disco. Nesse mesmo ano, um grupo de cerca de 50 artistas homenagearam o músico num concerto no Teatro da Trindade, em Lisboa. Ainda em 2012 recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, que a justificou como uma "forma de reconhecimento pelo trabalho de décadas ao serviço da dignificação da música portuguesa”.

Em 2013 estreou, no Museu do Fado, em Lisboa, um documentário sobre a sua carreira, “Azul Alvim”, da autoria de Margarida Mercês de Mello. O título do documentário é inspirado num dos temas do duplo álbum, um poema de Tiago Torres da Silva, interpretado por Carlos do Carmo.

O velório do músico Fernando Alvim realiza-se a partir das 17h00, na Basílica da Estrela, “ficando a capela mortuária aberta durante a noite”, disse à Lusa fonte da família.

No sábado, às 10h00, é celebrada missa de corpo presente, na basílica, em Lisboa, realizando-se em seguida o funeral para Seiça, no concelho de Vila Nova de Ourém, de onde o músico era originário.

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