O antigo vocalista dos Pogues encontrava-se hospitalizado devido a uma encefalite e morreu esta quinta-feira, dia 30 de novembro.

A morte foi comunicada nas redes sociais pela mulher de Shane MacGowan, Victoria Mary Clarke. "Significava o mundo para mim", lamentou.

"Shane será lembrado como um dos maiores letristas da música", afirmou o presidente da Irlanda, Michael Daniel Higgins, em comunicado. Higgins considerou muitas canções de MacGowan "poemas perfeitamente elaborados".

Formada em Londres em 1982, a banda com elementos ingleses e irlandeses marcou a década ao combinar punk com influências da música tradicional celta. Os Pogues tornaram-se uma voz política para os jovens imigrantes irlandeses na capital britânica dos anos 1980, num movimento contra a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

Mas se discos como "Red Roses For Me" (1984) ou "If I Should Fall From Grace With God" (1988) geraram culto, MacGowan foi tão ou mais comentado devido aos seus problemas com o álcool, que o levaram a ter de ser substituído por Joe Strummer em 1991 e mais tarde por Spider Stacy, até à separação dos Pogues em 2014.

O grupo assinou canções como "Sally MacLennane", "Dirty Old Town", "A Rainy Night in Soho", "Fairytale of New York", com Kirsty MacColl, ou "Fiesta", vertida para português como "Festa" pelos Despe & Siga.

O músico, que nasceu no dia de Natal em 1957, também fez parte dos Nipple Erectors, Shane MacGowan and the Popes e The Shane Gang, tendo ainda editado canções a solo. Ao seu percurso juntam-se colaborações com artistas como Sinéad O'Connor, Nick Cave, The Jesus and Mary Chain, Dropkick Murphys, Alabama 3 ou Pretenders.

Em 2001, editou a autobiografia "A Drink with Shane MacGowan", escrita com a mulher, na qual recorda, por exemplo, os primeiros episódios de infância, em que a família lhe dava bebidas alcoólicas e o pai o levava a bares.

"Já testemunhei vários milagres na minha vida. É um milagre acordar todas as manhãs", confessou o cantor ao Guardian, em 2018, aludindo às décadas de excessos que lhe colocaram a saúde em risco e despertaram alertas médicos. No mesmo ano, foi homenageado num espetáculo no National Concert Hall, em Dublin, que celebrou o seu 60.º aniversário e que contou com músicos como Nick Cave, Bobbie Gillespie (Primal Scream), Glen Matlock (Sex Pistols), Cerys Matthews (Catatonia), Carl Barat (The Libertines) ou o ator Johnny Depp na guitarra.

MacGowan era "um ser humano especial e um dos poetas mais importantes do século XX", afirmou Depp na altura.

Embora ainda consumisse álcool regularmente quando festejou os 60 anos, o irlandês frisou que já só bebia vinho. "Porque é que hei-de parar? Só tenho uma vida para viver. Eu é que escolho quando devo morrer", sublinhou.