A poucos dias do concerto da banda em Portugal – Coliseu dos Recreios, 14 de Novembro -, o Palco Principal falou com o baixista do grupo,Peter Bauer, quepartilhou o estado de graça alcançado pela banda americana.

Palco Principal - Enquanto a maior parte das bandas de Nova Iorque se divertia a escrever sobre drogas, parecendoestar a viver numa nuvem paradisíaca, os The Walkmenquestionavamo que iria acontecer quando a boa vida acabasse e como seria viver num mundo cinzento. Como têm sido estesdez anos, em que os The Walkmen criaram uma imagem de marca extremamente uncool?

The Walkmen - Decididamente, somos vistos como uma banda pouco cool. Mas essa não é, realmente, a nossa onda. Não nos interessa, minimamente, o universo das drogas ou o que com ele está relacionado. Tem sido fantástico estar numa banda e estamos orgulhosos de muitas das coisas que fizemos ao longo destesdez anos. Somos pessoas empenhadas que olham para o futuro, que traçam metas e que tentam divertir-se o máximo que podem. Mas, sabes, somos todos casados, todos temos família e é este o mundo de que gostamos e ao qual queremos pertencer.

PP - O novo disco chama-se “Lisbon”, mas não há nele uma influência lírica ou sonora directada capital portuguesa.Talvez,apenas,um toque de fado na forma como Hamilton canta alguns dos temas mais tranquilos. Por que deram, então,este nome ao disco?

TW - Falaram-nos do Fado quando aí estivemos. Não chegámos a ouvir qualquer música, apenas lemos algumas coisas e achámos a sua descrição fantástica. A escolha do título teve a ver com a sensação de viagem e de descoberta que sentimos quando estivemos em Lisboa. Chegas a um sítio onde és um estranho completo, não conheces nada sobre a cidade,sobre aquiloque ouves à tua volta enquanto passeias. Levantas-te de manhã e encontras esta cidade gigantesca, de certa forma misteriosa e tropical. É como se em Lisboa tivesse surgido a primeira impressão do sentimento que queríamos reflectir na nossa música. Queríamos fazer algo estranho e pouco familiar, mas ao mesmo tempo que fosse caloroso e misterioso. Acho que essa é, provavelmente, a principal relação, e foi isso que pensámos transmitir no disco ao chamar-lhe “Lisbon”. Talvez seja mais fácil para os estrangeiros que visitam Lisboa – do que para os próprioslisboetas ou portugueses– relacionarem-se com esse estado de espírito.

PP - “Lisbon” põe de lado os tempos espinhosos e cortantes em que os The Walkmen se viravam para o rock de garagem com espírito quase punk, e abraça outras sonoridades, como o “brass”, de New Orleans, e até as vibrações surf que parecem estar de volta à música dos dias correntes. Como definem a transformação do som dos The Walkmen? Fartaram-se todos do barulho?

TW - É uma mudança natural. Tentamos sempre fazer algo drástico em termos sonoros. Cada disco tem de soar diferente, não queremos repetir-nos de cada vez que vamos para estúdio trabalhar num novo álbum. Sentimo-nos mais bemsucedidos tentando trabalhar e pensando dessa forma. Mas, no final, não temos assim tanto controlo, apenas tentamos escrever uma canção que tenha coisas interessantes, trabalhar nela arduamente, e esperar que resulte.

PP - “Lisbon” é, de todos os vossos discos, o mais melódico, expressivo e variado, apesar de se apresentar carregado de uma ideia de minimalismo. Estão satisfeitos com o resultado ou já pensam em trilhar novos caminhos musicais no ainda longínquo sétimo longa-duração?

TW - Estamos muitos satisfeitos com o resultado final e esperamos, efectivamente,que possa haver um sucessorde “Lisbon”. De preferência que soe bastante diferente deste...

PP - Apesar do ar de relaxamento, de uma instrumentação mais contida, as palavras de "Lisbon"continuam a falar de desapontamento, raiva e arrependimento. Podemos dizer que é o disco de uma banda mais madura, mas permanentemente irrequieta com a vida e o mundo?

TW - Sim, definitivamente. Continuamos a lutar pela sobrevivência a cada segundo que passa. Acho que é isso que temos de fazer com as nossas vidas. Não queremos,contudo,fazer algo que soe deprimente, tentamos sempre chegar a qualquer coisa que signifique uma experiência, que faça uma pessoa feliz. Por vezes, é nas canções mais depressivas ou zangadas que conseguimos encontrar uma alegria maior.

PP - O disco traça uma fronteira entre ricos e pobres, lideres e seguidores, vencedores e perdedores. Em Juveniles lançam em tom de desafio: “You`re one of us or one of them”. Em que lado da barricada estão os The Walkmen?

TW - De que lado estamos? Somos perdedores, claramente. Se tivéssemos de escolher entre o lado dos vencedores e o dos perdedores, estaríamos do lado dos perdedores. Mas nunca se sabe, talvez um dia mudemos de lado.

PP - A par dos The National, os The Walkmen são uma das bandas que mais bemtem expressado a ideia do crescimento e do que significa envelhecer. Pensam muito nisso enquanto banda?

TW - As letras das músicas são muito importantes para nós enquanto banda, tão importantes quanto tudo o resto. Tenho dois filhos, amo os meus filhos e a minha mulher. Tocar música faz parte da minha vida, é o que faço para sobreviver e para manter o meu mundo. Penso que os The National têm uma visão semelhante em relação à vida e à música. Tocámos juntos em alguns concertos e demo-nos bastante bem. Penso que podemos dizer que as duas bandas vêm de mundos semelhantes.

PP - O que esperam do concerto em Portugal? Vão tocar num espaço fantástico (Coliseu dos Recreios).

TW - Estamos muitos ansiosos, mas também bastante nervosos porque demos o nome de uma cidade da qual pouco sabemos a um disco e, de repente, vamos lá tocar. O melhor é chegarmos com as armas carregadas. Vamos ver o que acontece. Faremos tudo para dar um grande concerto.

Pedro Miguel Silva