O festival tem um peso cultural significativo, mas o legado de meio milhão de jovens a festejar à chuva é menos sentido como uma subcultura revolucionária e mais como um clichê da cultura pop.

Em 1969, a sociedade norte-americana estava a recuperar de vários acontecimentos, entre eles os protestos contra a guerra do Vietname, os distúrbios raciais e os assassinatos de figuras como Martin Luther King e Robert Kennedy, o que implicitamente colocou a paz e o amor de Woodstock como um antídoto contra a raiva.

"O estado de ânimo no país era um pouco como hoje. Havia uma sensação de violência, de verdadeiro ódio e divisão", disse Martha Bayles, académica de música e cultura no Boston College.

No entanto, embora Woodstock evoque o sentimentalismo para muitos "baby boomers", algumas gerações mais jovens podem achar que se trata de uma simples reiteração do "narcisismo dos anos 1960", como Bayles expressou.

Influência política?

Apesar de Woodstock ter incluído canções de protesto, Bayles descartou a noção popular de que o festival foi político, o que considera um "mal-entendido".

Woodstock

"Nem do movimento contra da guerra, nem do movimento do poder negro... ninguém desses campos viu Woodstock como algo além de uma piada".

Para os ativistas, Woodstock "era um grupo de hippies drogados que não eram sérios; que não entendiam quão grave era a situação", disse. "Foi visto pela militância política mais rígida como algo tosco e autoindulgente".

A artista mais ativa politicamente do evento foi Joan Baez, que recorda Woodstock como "um festival de alegria".

Os três dias "foram algo importante, mas não foram uma revolução", disse ao jornal The New York Times. "Uma revolução ou mesmo uma mudança social não acontecem sem a vontade de correr riscos. E o único risco em Woodstock era não ser convidado", afirmou.

Rito musical

Bayles considera que o Woodstock exibiu um tipo de rock enraizado nas tradições folclóricas, blues e gospel que deram à geração dos anos 1960 um fio condutor apesar das severas fissuras sociais.

"A música uniu todos os diferentes setores dessa geração", disse a especialista.

Apesar de a comercialização sustentar o circuito de festivais de hoje, ainda restam indícios do espírito de Woodstock, assegura.

"O poder tinha que ver com a música e a multidão", disse. Era "essa ilusão que tínhamos de que todos estavam a ser arrastados para algum tipo de experiência coletiva transcendente".

Woodstock

O especialista Danny Goldberg, que cobriu o festival para a Billboard com 19 anos, disse que depois de Woodstock se disponibilizaram recursos para promover a música de rock de uma maneira que não se havia feito antes. "Foi um ponto de inflexão na indústria".

O princípio do fim

O lançamento em 1970 de "Woodstock", um documentário de mais de três horas que ganhou um Óscar, mudou a imagem de um festival caótico para a de um ajuntamento utópico de paz.

No momento em que Jimi Hendrix interpretou a sua agora famosa versão do hino dos Estados Unidos na manhã de segunda-feira, a maioria das pessoas já havia ido embora. No entanto, o seu lugar central no filme deu à atuação um peso simbólico e um fundo político, disse Goldberg.

Embora o movimento hippie tenha deixado a sua influência na cultura de massas, como o ativismo ambiental ou a prevalência do ioga, Goldberg assegurou que "cresceu demasiado para continuar a ser uma subcultura".

"Tornou-se um objeto de sátira em vez de um objeto de idealismo", disse. "Esse aspecto de contracultura do legado do Woodstock foi o final de alguma coisa, mais do que o início".

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