A exposição em Paris, apresentada previamente este ano na National Portrait Gallery de Londres, começa pelo fim: o último retrato do artista antes da sua morte em 2009. Trata-se de uma obra monumental, do norte-americano Kehinde Wiley, na qual Michael Jackson aparece como um monarca do século XVI, montando num cavalo com uma bela armadura.

A pintura, inspirada no "Rei Filipe II a cavalo", de Rubens, marca o tom da exposição e reflete o peso de Michael Jackson, "uma das personagens de interesse cultural mais influentes do século XX", segundo a retrospectiva "On the wall", no museu Grand Palais.

Quarenta artistas expõem a sua visão do rei da pop, cantor e recordista de vendas, cujo álbum "Thriller" continua a ser o mais vendido da história.

"Outros cantores como David Bowie e Paul McCartney influenciaram os artistas, mas o caso de Michael Jackson é inigualável", considerou a curadora da exposição, Vanessa Desclaux.

Mas quem, sem dúvidas, abriu este caminho foi Andy Warhol, que começou a fotografá-lo no fim da década de 1970. Em 1984, a revista Time utilizou um dos seus retratos serigrafados para uma capa dedicada ao cantor. Anos mais tarde, Jackson devolveu a homenagem incluindo um autorretrato de Warhol no videoclip da canção "Scream".

Bajulado como Jesus?

Michael Jackson foi um ícone (um modelo) ou um ídolo (uma personagem bajulada)? As duas coisas ao mesmo tempo, segundo a exposição, que mostra os retratos assinados pelo norte-americano David LaChapelle, nos quais o cantor é representado como um "Jesus dos Estados Unidos", com elementos pertencentes à iconografia cristã.

Embora a mensagem possa parecer exagerada, as imagens mostradas numa tela com milhares de fãs a esgoelarem-se durante um concerto em Bucareste, enquanto Michael Jackson tira os óculos escuros, não fazem nada além de reforçá-la.

A admiração dos artistas também tem muito a ver com o modelo de universalidade que representou, com uma música acessível a todos, assim como a importância dada à comunidade negra do seu país pela fama mundial do cantor.

"Michael sempre desafiou a normalidade e o correto. Este é um dos motivos pelos quais tantos artistas se inspiraram nele. Além da sua criatividade infinita", afirmou um dos seus fotógrafos oficiais, Todd Gray, que foi à apresentação da exposição no Grand Palais, onde há várias fotografias a preto e branco, nas quais só se vê, por exemplo, uma parte do cabelo do artista.

Mas, acima de tudo, Michael Jackson foi um artista cujas canções se tornaram hinos para milhões de pessoas. Uma instalação mostra vários fãs europeus que Michael Jackson selecionou para que cantassem à capela todas as músicas de "Thriller". O resultado - um grupo heterogéneo de sexos, idades e raças - evidencia como conseguiu reunir uma diversidade de pessoas.