“Pastagens do Céu” é uma coletânea de histórias que têm como elo de ligação o espaço onde se desenvolvem - uma verdejante e naturalmente protegida planície californiana que reúne uma pequena comunidade agrícola no início do século XX. As histórias são, de forma geral, mais leves que os grandes dramas que tornaram Steinbeck popular e reconhecido - especialmente “Ratos e Homens”, “As Vinhas de Ira” e “A Leste do Éden”.

A história começa com o primeiro desbravador espanhol a descobrir “o paraíso”, mas que, infetado por varíola, não teria tempo para concretizar o “sonho dos homens violentos”: o de terminar os seus dias na pasmaceira de uma quinta isolada.

Muitos anos depois a terra é finalmente ocupada e existe paz e prosperidade. Sucedem-se as histórias - do falhado que encontra prosperidade numa quinta “amaldiçoada”, a anedótica (mas dramática) história de um homem que todos imaginam esperto e rico e que escondia habilmente a sua pobreza e várias outras.

Uma das curiosidades de “Pastagens do Céu” é o inusitado gosto de Steinbeck por personagens tão “anormais” e singulares que beiram o sobrenatural - mas sem nunca, obviamente, pertencerem a este domínio. Tularecito, por exemplo, é um monstrengo (no sentido físico) com grandes incapacidades e enormes habilidades - que fica convencido, através de uma professora imaginativa, de que pertence ao mundo dos gnomos.

Outras personagens e narrativas desafiam a “normalidade” da vila: numa delas uma menina com uma grave doença de foro psiquiátrico é mantida sem tratamento pela mãe, que recusa perdê-la. Trata-se do desfecho mais violento de um livro no qual muitos dos contos terminam de forma abrupta e sem um final dramático ou explicativo.

Numa das histórias mais divertidas, duas irmãs empobrecidas decidem vender especialidades espanholas mas acabam por “agradecer” aos clientes assíduos com outra “especialidade”.

Noutro momento singular, um homem questiona praticamente todo o modelo de sociedade existente à sua volta pela simples política pessoal de ser o mais preguiçoso possível - nem que para isso negligencie a sua quinta e o próprio filho - esse cresce engrandecido pelas fantásticas narrativas de um pai que era leitor ávido mas pouco propenso a preocupações mundanas como vestir adequadamente o menino.