Os dois escritores, de 21 e 28 anos, respetivamente, venceram ‘ex aequo’ a edição 2023 do Prémio Literário Fernando Leite Couto, promovido pela fundação com o mesmo nome, distinção que lhes valeu a publicação da obra e a realização de uma residência literária em Óbidos, onde o prémio foi entregue, na tarde sábado, no âmbito do Folio.

As obras premiadas foram “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio”, de Elvira Nhamane, pseudónimo de Gibson João, e “Incêndios à margem do sono”, de Aconteceu Castigo Namussurize, pseudónimo de Óscar Fanheiro.

O júri justificou a atribuição do prémio a Gibson João por considerar tratar-se de ”um livro marcado por uma apurada maturidade poética, que se enovela num modo discursivo a uma só voz, rico e sucinto”.

“As palavras encenam neste livro uma sedução quase física, ou melhor, as palavras parecem estar a incarnar à nossa frente, artifício que resulta claramente de uma prática continuada de leitura”, refere-se num comunicado divulgado pela Câmara de Óbidos, aquando da divulgação da decisão do júri.

Relativamente ao livro de Óscar Fanheiro, o júri classificou-o como uma obra “visceral, que revela a sobriedade do autor na estruturação dos versos e na extensão da emoção da palavra” e destacou a “escrita desconcertante, incisiva, na qual se misturam o chulo e o nobre, as metáforas mais ricas e a rudeza do vigor coloquial, o realismo sujo e algumas imagens sublimes, numa comunicação polifónica que, não sendo sempre orquestrada com absoluto ajuste, é de uma inegável coerência estética e se manifesta numa liberdade que deve ser apanágio dos poetas”.

Os dois livros “são como que mutuamente complementares, dado o caráter solar de “[Da casa]: o seu inclinado murmúrio” e o caráter noturno de “Incêndios à margem do sono”, motivo que justifica a atribuição “ex aequo” do prémio”, explicou o júri composto por António Cabrita (poeta, editor e crítico), Francisco Guita Jr. (poeta), Gilberto Matusse (professor de literatura na Universidade Eduardo Mondlane e ensaísta), José dos Remédios (jornalista e crítico literário) e Lica Sebastião (poetisa).

O Prémio Fernando Leite Couto (pai do escritor Mia Couto) foi instituído em 2017 com o objetivo de promover e premiar jovens escritores moçambicanos.

Desde 2021 conta com a parceria do Camões – Centro Cultural Português em Maputo, da Câmara de Comércio Portugal Moçambique (CCPM), da Câmara Municipal de Óbidos e do Moza-Banco, o que tornou possível atribuir 150 mil meticais (aproximadamente dois mil euros) ao vencedor.

Os vencedores da cada edição ganham a possibilidade de ter a respetiva obra impressa pela CCPM e uma viagem a Portugal, para participar Folio.

Os autores realizarão também, nesta vila do distrito de Leiria, uma residência literária e, no regresso a Moçambique terá apoio do Camões – Centro Cultural Português, para divulgar as respetivas obras e orientar oficinas literárias, numa das suas delegações, em Moçambique.

A atribuição ‘ex aequo” do prémio já aconteceu o ano passado, com a vitória de Maya Ângela Macuacua, com o romance “Diamantes pretos em meio a cristais”, e Jeremias José Mendoso com a coletânea de contos “Quando os mochos piam”.

Anteriormente o Prémio Fernando Leite Couto tinha sido atribuído a Macvildo Pedro Bonde, com o livro de poemas “Descrição das Sombras”, em 2017, e Otildo Justino Guido, com a obra “O Silêncio da Pele”, em 2019.

O Folio - Festival Literário Internacional decorre até ao dia 22, com um programa que integra 14 mesas de autores, 108 conversas e tertúlias, 40 apresentações e lançamentos de livros, 40 espetáculos e concertos, 21 exposições e 18 sessões de leitura e poesia na vila.