Numa entrevista ao The Times (citada pela revista The Hollywood Reporter), Helena Bonham Carter mostrou-se combativa contra a cultura do cancelamento e a defender figuras controversas como o colega Johnny Depp e a autora J.K. Rowling, criticando que ideia de que a vida pessoal de alguém deve prejudicar a sua carreira.

"Bane-se um génio por causa das suas práticas sexuais? Se olhássemos com atenção suficiente para a sua vida pessoal, haveria milhões de pessoas desqualificadas. Não se pode banir as pessoas. Odeio a cultura do cancelamento. Tornou-se bastante histérica e há uma espécie de caça às bruxas e falta de compreensão", disse a atriz britânica, que além de ter sido a princesa Margarida na terceira e quarta temporadas de "The Crown", tem uma longa carreira no cinema, em filmes como "Quarto com Vista Sobre a Cidade", "Regresso a Howards End", "O Grande Peixe", "Charlie e a Fábrica de Chocolate" ou "Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street", foi nomeada para os Óscares por "As Asas do Amor" (1997) e "O Discurso do Rei" (2010) e assustou milhões como a sádica Bellatrix ­Lestrange em quatro títulos da saga "Harry Potter".

Questionada se havia alguma possibilidade de regresso para algumas figuras públicas de Hollywood após o seu cancelamento, a atriz dividiu as águas: "Penso que não para alguém como Kevin Spacey. E o Johnny [Depp] certamente que passou por isso".

"Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street" (2007)

Especificamente sobre Depp, com quem trabalhou várias vezes e é o padrinho dos dois filhos que teve com o antigo parceiro, o realizador Tim Burton, Carter diz que lhe foi feita "completamente justiça" após o veredito maioritariamente a seu favor no mediático julgamento contra a antiga esposa Amber Heard: "Acho que ele agora está bem agora. Completamente bem".

A atriz foi muito clara sobre o que achava da ex-esposa de Depp quando respondeu à pergunta sobre se o veredito significava que o "pêndulo" do movimento #MeToo estava a balançar para trás: "O meu ponto de vista é que ela embarcou nesse pêndulo. É esse o problema com estas coisas — que as pessoas entrem na onda porque é a tendência e para serem o símbolo disso".

Acusada de transfobia por causa de vários comentários, J.K. Rowling também foi defendida: "É horrível, um monte de disparates. Acho que ela foi perseguida. O julgamento das pessoas foi levado ao extremo. Ela tem direito à sua opinião, principalmente se sofreu abuso. Toda a gente carrega a sua própria história de trauma e forma as suas opiniões a partir desse trauma e tem que se respeitar de onde vêm as pessoas e a sua dor. Não é preciso concordar com tudo, isso seria de loucos e aborrecido. Ela não está a dizê-lo de forma agressiva, está apenas a falar da sua própria experiência".

Sobre o facto das principais estrelas dos filmes "Harry Potter" (Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint) terem falado publicamente contra as declarações da escritora, a atriz respondeu: "Pessoalmente, acho que eles a deviam deixar ter as suas opiniões, mas acho que estão a proteger de forma muito consciente a sua própria base de fãs e a sua geração".