Na quinta-feira, o secretário da Ordem Pública foi entregar a notificação à Bienal do Livro do Rio de Janeiro acompanhado de cerca de 15 polícias e prometeu regressar no dia seguinte para confirmar se foi cumprida, mas a deslocação será inútil: esgotou a banda desenhada da Marvel que o prefeito da cidade [presidente da câmara] Marcelo Crivella mandou retirar por mostrar um beijo gay entre super-heróis.

Segundo o gabinete de comunicação da organização, todos os exemplares de "Vingadores: A Cruzada das Crianças" desapareceram dos postos de venda cerca de 40 minutos após a abertura de portas esta sexta-feira de manhã daquele que é o o maior evento literário do país.

A polémica começou quando uma visitante da Bienal se queixou nas redes sociais que era ofensivo "para crianças" o conteúdo da banda desenhada que mostra dois heróis adolescentes gays namorados, Wiccano e Hulkling, a beijarem-se nas últimas páginas.

A obra foi publicada sem gerar qualquer controvérsia nos EUA em 2010 na coleção "Novos Vingadores", com uma nova geração de heróis adolescentes, e no Brasil em 2012 e 2016.

Apesar da classificação recomendada da obra ser para adolescentes e não um público infantil, o caso alastrou rapidamente e chegou ao vereador Alexandre Isquierdo (partido Democratas, de centro-direita).

Esta quarta-feira, durante uma sessão pública na Câmara Municipal, mostrou-a nas mãos e condenou a sua venda na feira como uma "cobardia" às crianças, apelando aos colegas para assinarem uma carta de repúdio contra Marvel e as respetivas editoras que a publicaram no Brasil.

Na quinta-feira, o prefeito Marcelo Crivella (partido Republicanos, também de centro-direita) mandou remover a obra, repetindo o argumento de que era preciso "proteger as nossas crianças" do seu "conteúdo sexual para menores".

Após a decisão, as redes sociais encheram-se de acusações de censura e autoritarismo das autoridades.

Ainda antes da corrida às bancas, a organização da Bienal do Livro defendeu a pluralidade do evento e garantiu que não ia retirar o livro.

"Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+. A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o [lhe] agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor", avançou em comunicado.