"Messiah", nova aposta da Netflix com estreia marcada para o dia 1 de janeiro de 2020, segue a história de um misterioso líder religioso que emerge no Médio Oriente e que é perseguido por todo o planeta pela CIA.

"Uma agente da CIA investiga um carismático homem que iniciou um movimento espiritual e que anda a causar agitação política", descreve o serviço de streaming na página dedicada à série.

Veja o trailer:

"Sim é provocador, a série é provocadora", frisou à AFP o criador Michael Petroni. "Mas provocador não é ofensivo", lembrou.

"Messiah" imagina como é que a sociedade moderna reagiria ao surgimento de uma figura religiosa deste tipo, divulgando a sua mensagem rapidamente pelas redes sociais num mundo afetado pelas "fake news" e ciclos de notícias intermináveis.

As ações decorrem no Médio Oriente e nos Estados Unidos. As personagens, como a obstinada agente da CIA interpretada por Michelle Monaghan, vão do inglês ao hebraico, passando pelo árabe, às vezes na mesma conversa.

Messiah
créditos: Netflix

A pergunta que fica é se a figura central da série - interpretada pelo ator belga Mehdi Dehbi - é um messias genuíno, um nefasto agente político ou simplesmente um vigarista.

Petroni afirma que o thriller tem como como objetivo provocar um debate e uma perspetiva do "ponto de vista do outro". "Esperamos muito barulho à volta da série e muito debate. Espero que aconteça um debate", insistiu, antes de destacar que a série "não procura ofender nem julgar ninguém"

Uma campanha no site Change.org pede o boicote do programa, descrito como "propaganda maligna e anti-islâmica", embora a série nunca especifique a que religião pertence o enigmático líder, a quem as personagens chamam de "Messias" e "Al-Masih", entre outros nomes.

Petroni admite que a Netflix ficou "nervosa" quando apresentou a ideia. "Era um conceito muito audacioso", destaca. "Quando lê o piloto e esta personagem vai marchar com 2000 sírios palestinianos através da fronteira de Israel", conta.

A proposta também incluía a construção, com um custo considerável, de uma réplica em escala de parte do Monte do Templo - o local mais sagrado do judaísmo -, incluindo o Domo da Rocha, de onde os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé subiu ao céu.

Filmar no local sagrado nunca foi uma possibilidade, particularmente pela natureza violenta da cena que aparece no segundo episódio da série.

As cenas do Médio Oriente foram rodadas na Jordânia e nos Estados Unidos, o que representou um desafio adicional.

MESSIAH
créditos: Netflix

Outras séries norte-americanas, como "Segurança Nacional", enfrentaram barreiras culturais e linguísticas, o que gerou críticas pela sua representação da região e dos muçulmanos.

Nesta produção, por exemplo, numa cena filmada em Berlim um comandante do Hezbollah escolta a protagonista por um suposto campo de refugiados sírios, no qual alguém diz em árabe a frase "'Segurança Nacional' é racista".

O primeiro trailer de "Messiah", divulgado no início do mês, foi ridicularizado por espectadores muçulmanos, que destacaram que o nome "Al-Masih" é utilizado na teologia islâmica por Dajjal, um falso profeta comparável ao Anticristo.

A Netflix rapidamente respondeu que este "não é o nome da personagem" e que os detalhes da trama permanecem sob embargo.

Petroni, um australiano cujo pai foi criado no Egito, não fala árabe, assim como os realizadores, o que exigiu a contratação de uma equipa experiente e confiável de tradutores e professores de dialetos. "Fomos muito cuidadosos", garantiu Petroni.