Campeã de audiências e verdadeiro fenómeno nas ruas e nas redes sociais, a telenovela "Avenida Brasil" saiu do ar no Brasil a 19 de outubro, mas deverá entrar para a história do género como a primeira a centrar a sua trama na chamada nova classe média brasileira.

Barulhentos, sem modos, mas trabalhadores alegres e solidários: assim são as personagens de "Avenida Brasil", espelho dos milhões de brasileiros que saíram da pobreza e que claramente aprovaram a sua caraterização nesta obra de ficção que chegou diariamente a 38 milhões de telespectadores.

Em seus últimos dias no ar, a criação de João Emanuel Carneiro tornou-se tema obrigatório nas conversas até mesmo das poucas pessoas que não acompanharam a trama. Artistas atrasaram o início de seus espetáculos, compromissos foram marcados para depois da exibição do capítulo e até os taxistas acompanham os episódios no próprio carro.

A febre de "Avenida Brasil" alterou até a agenda da presidente Dilma Rousseff, que mudou a data de um comício de apoio ao candidato do PT à Prefeitura de São Paulo para que não coincidisse com o último capítulo da telenovela.

Dilma também participou noutro comício em Salvador, mas o evento terminou antes do início da telenovela. Para evitar a dispersão dos partidários o PT, decidiu instalar no local um ecrã para que o último capítulo pudesse ser acompanhado.

"Avenida Brasil" é a telenovela mais comentada dos últimos anos e a população incorporou as expressões e trejeitos dos personagens da história. Nos estádios, quando uma equipa joga mal, os adeptos costumam gritar o nome do Divino Futebol Clube, a equipa fictícia de terceira divisão da novela.

Para criar a trama, João Emanuel Carneiro disse ter-se inspirado na chamada "classe C", que representa quase 55% dos 195 milhões de habitantes do país, a sexta economia do mundo. As fileiras da classe C foram engrossadas com as políticas sociais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que tirou mais de 40 milhões de pessoas da pobreza.

A classe C, reflexo do novo Brasil

"Foi uma grande ideia centrar a novela na classe média emergente. É o reflexo do novo Brasil, das famílias que ascenderam, conseguiram dinheiro, mas que não têm necessariamente boa educação", explicou à AFP o sociólogo Geraldo Tadeu, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio (Iuperj).

A vingança de Nina contra a vilã Carminha constitui o elo condutor da trama, mas são os novos ricos, com seus exageros e sua espontaneidade, que são a base e atração maior.

A novela também reflete a vida do pequeno empresário, como Monalisa, batalhadora dona de uma rede de salões de beleza, e do trabalhador comum. "É uma classe emergente, que está a consumir e tem orgulho no que é, e isto é muito importante", afirma Mauro Alencar, especialista em teledramaturgia brasileira, numa entrevista recente à Globo News.

O fenómeno "Avenida Brasil" também é comprovado pela repercussão nas redes sociais, onde cada capítulo domina os "trend topics". "As redes sociais não roubam audiência, antes potencializam a comunhão que existe entre o público e a novela. É delicioso acompanhar ao mesmo tempo a novela e os comentários no Facebook e Twitter", comenta o diretor da novela, Ricardo Waddington, ao jornal O Dia.

@SAPO/AFP