A ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero vai apresentar queixa na Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) contra a comentadora Manuela Moura Guedes. Em causa estão as declarações polémicas da comentadora na passada segunda-feira, dia 18 de março, no seu espaço de comentário no "Jornal da Noite", da SIC.

Para a associação, a jornalista promoveu "desinformação" na forma como se referiu às pessoas intersexo e à ação de formação dada por uma associação LGBTI numa escola do Barreiro. "A propósito das declarações proferidas ontem na rubrica ‘A Procuradora’ no Jornal da Noite da SIC, a ILGA Portugal informa que irá apresentar uma queixa junto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Tendo em conta a gravidade das mesmas, será solicitado o direito de resposta e esperamos também um pedido de desculpas público da parte deste canal televisivo, dirigido a todas as pessoas LGBTI e às suas famílias", avança em comunicado.

No seu espaço de comentário na SIC, Manuela Moura Guedes disse que "o I é a ideologia, é intersexo". "Intersexo é o tal it, não sabes, tu não és definido biologicamente, tu és aquilo que tu quiseres ser. É uma construção social que é uma tolice", disse a comentadora.

"Nos últimos anos, o trabalho incansável das Organizações Não Governamentais de Direitos Humanos - que funcionam maioritariamente sem recursos e com o apoio indispensável de pessoas voluntárias - tem sido essencial para garantir que vivemos numa sociedade mais igualitária. Este trabalho não se faz só com reuniões parlamentares para alterar as leis. Este trabalho implica o diálogo constante com a sociedade civil. Na ausência de mecanismos governamentais para que tal aconteça, cabe grandemente a estas associações substituírem-se ao Estado numa responsabilidade que é de tod@s: o apoio às muitas vítimas da homofobia e da transfobia e a garantia de que as pessoas LGBTI podem viver em igualdade, protegidas da violência e do insulto, longe do isolamento, do silêncio e da vergonha. Descredibilizar esta ação e promover a desinformação e a fuga à verdade – ainda mais sem o devido contraponto - num programa informativo de âmbito nacional e de grande alcance é colocar em causa longos anos de conquistas pela igualdade no nosso país, numa clara contradição dos princípios que regem a atividade jornalística", frisa a ILGA Portugal em comunicado.

Ao Expresso, a autora da rubrica "A Procuradora", frisou que tem direto à sua opinião: "Tenho direito à minha opinião. É surpreendente que uma associação como a ILGA, que defende a liberdade de orientação sexual, não defenda a liberdade de expressão".