Os podcasts sobre crimes reais tornaram-se numa obsessão para uma grande audiência mundial, que não consegue parar de ouvir os episódios. Mas qual o impacto do fenómeno para os protagonistas do evento, as vítimas e as suas famílias, obrigadas a reviver os factos, às vezes décadas depois? Quais as motivações para regressar aos casos?

A plataforma de streaming Apple TV+ explora este fascínio mórbido, que muitas vezes apresenta um duro impacto para as famílias e investigadores, com a série de ficção "Truth Be Told", que estreia na próxima sexta-feira, dia 6 de dezembro.

Na série, Octavia Spencer interpreta a jornalista Poppy Parnell, que volta a olhar para o caso de Warren Cave, um adolescente condenado por assassinato, depois de novas evidências serem reveladas.

As suas descobertas são relatadas num popular podcast. Mas a trama rapidamente revela que Parnell fez o seu nome como jovem repórter ao ajudar a incriminar Cave, que se une a um grupo neonazista na prisão.

"Ela tem muitos pontos fracos, pensa que pode ter cometido um erro e decide investigar", explica Spencer.

Aaron Paul, que interpreta Cave, diz que a sua personagem, que tem uma tatuagem de suástica, força os telespectadores a entender que "nem tudo é tão preto e branco quanto parece".

Apesar das claras semelhanças com podcasts de crimes da vida real como "Serial", "Truth Be Told" é baseado no livro de Kathleen Barber, "Are You Sleeping?".

A criadora do programa, Nichelle Tramble Spellman ("The Good Wife", "Justified"), afirmou que pretendia enfatizar o problema de confiar apenas no ponto de vista do 'podcaster'. "Há uma espécie de perigo do velho oeste para este tipo de jornalismo", disse, ao destacar que os podcasts caem com frequência numa área "sem controles e sem equilíbrio, onde não há chefes".

"O podcast é um tipo de narrador não confiável porque não conhecemos a agenda (os interesses) de Poppy", completa Spellman. "E não sabemos quando e se podemos acreditar nela", frisa.

Os criadores da série adicionaram um forte elemento de  política racial. Parnell inicialmente esconde de sua família a nova identidade do condenado e, à medida que este e outros segredos emergem ao longo de oito episódios, as dúvidas aumentam sobre o podcast de Parnell.

"Acho que a verdade pode ser tristemente moldada de acordo com a lente como que se vê o mundo ", disse Spencer. "E qualquer que seja a sua verdade, irá moldar o que acredita que é a verdade", sublinha.

Tanto Spencer como Paul admitiram que na vida real apreciam este tipo de podcast, em particular "Serial", um dos mais ouvidos de todos os tempos.

Assim como milhões de ouvintes, eles têm teorias sobre o sucesso, no qual a jornalista norte-americana Sarah Koenig investigou - e parece ter estabelecido uma boa relação - com um condenado que foi preso quando era adolescente por assassinato.

Spencer identifica elementos de narcisismo em Adnan Syed, o agora famoso personagem de "Serial", enquanto Paul pergunta se a jornalista desenvolveu sentimentos românticos pelo condenado.

Mas ambos também reconhecem o dano que pode ser causado por especulações intensas ou por tomar como "factos" as informações apresentadas nos podcasts policiais."Como público, participamos de uma maneira estranha ... não precisa sofrer nenhuma das ramificações que infelizmente as famílias ou as vítimas suportam", admite Spencer.

"Não gosto de usar a palavra 'fã' porque romantiza, de maneira estranha, um crime real. Mas eu estou profundamente fascinada por estas produções", completa.

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